As Peripécias de Firmino

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Firmino despediu-se da sua parentela em seu lugar de origem (o Maranhão) e ganhou o mundo… que nem pedra a rolar pelas estradas da vida: um dia num lugar, outro dia noutro. Mas, como pedra que rola não cria lodo, não quis o destino que Firmino fosse, em sua caminhada, além de Campos Belos (GO).

Assim, nessa sua trajetória de caminhante ou caminheiro solitário, esbarrou de vez por todas, nesta acolhedora cidade do nordeste goiano. — Nela, e por ela encerrou a sua caminhada terrena, em descanso eterno.

Não pude saber mais, sobre esse meu conterrâneo; nem mesmo o seu sobrenome eu soube. — O conhecia apenas por Firmino.

Aprendeu a gostar de graça do povo e desse lugar entre montanhas; que o adotou como sua cidade do coração. Nela viveu em amor permanente, num estado de graça recíproca: por ser também muito amado por sua gente. — Até que a morte os separaram.

Não é pelo fato de ter deixado-nos que falo bem do homem, mas Firmino era mesmo um bom camarada...

Extrovertido, sociável, bom de prosa; uma pessoa que a gente sentia bem interagir com ele e vice-versa. Só tínhamos a ganhar nessa boa relação: — tendo-o como amigo.

Desde a minha juventude na cidade, que conhecia o Firmino. Para mim, foi um dos melhores contadores de casos que conheci (no lugar); sempre no seu jeito alegre de ser, que cultivava e prendia como ninguém à atenção das pessoas que o ouvia. A gente permanecia junto dele, para saber os desfechos das suas belas narrativas orais.

"As Peripécias de Firmino" diz respeito a uma pescaria que ele fez com amigos pelas cercanias de Campos Belos. E ao chegar no local (após o primeiro megulho) anunciou aos colegas de pesca que, faria um ensopado de sucuri; como o prato do dia.

Firmino contava que, numa ocasião foi pescar com seus amigos num rio da região. E sobre as brancas areias desse rio, armaram suas barracas, às margens de um grande poço; neste, jogaram os seus anzóis, e lançaram as suas redes... e nadica de nada pegaram.

Cada integrante do grupo se ocupava numa atividade (no que fosse necessário fazer); e, com uns aperitivos a mais, Firmino teve uma ideia: — Vou buscar o almoço e volto.

Como ainda cultivava o velho hábito de capturar os peixes com as mãos; introduzindo-as em locas das barrancas de rios, e fendas rochosas, Firmino cuidou logo da sua tarefa assumida: pular nágua para conhece o ambiente aquático e tirar dele a alimentação de todos da equipe. Pois não haviam providenciado qualquer mistura para o almoço; ao acharem que bastavam levar as iscas e as tralhas de pesca.

Nesse primeiro mergulho, o Firmino gastou mais de um minuto para voltar à superfície das águas. E não houve preocupação dos companheiros quanto a esse tempo submerço: pois, sabiam que ele demorava mesmo nesses mergulhos.

Até que ressurgiu das profundezas do poço, sem peixe, sem nada de mais interessante para comerem.

Na praia, Firmino bebeu mais um aperitivo na semente de sucupira e comentou sobre o almoço:

— Se vocês toparem mesmo eu irei buscar agora uma sucuri pra gente comer cozida, assada, do jeito que quiserem. Como o pessoal já estava azul de fome e nada de mistura até então, gritaram em coro:

— Queremos! Pode trazer que nóis come!

Firmino retornou às águas tranquilas para buscar o prato do dia: seria mesmo a sucuri que havia visto numa loca no mergulho que deu. — E não contou de ter visto para fazer suspense na turma.

A euforia tomou conta de seus colegas que não conseguiram pegar nada na pescaria. Amaram a proposta alimentar de Firmino e sua providência do alimento. E fizeram um arroz bem quente (para misturar na iguaria) interromperam as suas atividades e foram para a barranca do rio aguardar, ansiosos, o desenrolar dos acontecimentos.

Firmino (debaixo d'água) havia grudado às mãos no rabo da cobra sucuri e tentava puxá-la a todo custo do buraco que se meteu. A bicha inflava o corpo, e o firmava nas laterais da toca. Nos descuidos de Firmino, ela avançava mais buraco a adentro.

E nessa luta ferrenha dos dois, pela sobrevivência… o homem venceu, ao conseguir pucha-la para fora de sua toca. Em terra firme, foi uma algzarra daquelas dos colegas-famintos; na barranca do rio, na expectativa de Firmino matar a fome deles.

E Firmino apareceu com a cobra: uma bicha amarelada de um metro e pouco; dava para saciar a fome de todos eles. Mesmo após batê-la sobre o solo arenoso da praia, por algumas vezes, a cobra não morria. Ao correrem para ajudar o colega a sacrifica-la qual foi a surpresa? — Constataram que não se tratava de uma cobra-sucuri: mas, de uma jaracuçu que, não podia mais crescer; de tão grande que era. Com isso de água na boca comeram o arroz branco; pois, o veneno da jaracusu é tão letal como o da cascavel.

(30:04:18)