Os ranços da evolução

Bons tempos em que conhecíamos os bandidos, bons temos em que sabíamos quem eram os ladrões, bons tempos em que escondíamos o dinheiro, bons tempos em que os bancos eram os colchões.

Sem tentativas de se travar amizades com os fora-da-lei, nem de aproximação com uma vida criminosa, era saudável saber que existiam os facínoras, bem como existiam os agentes da lei. Se, por vezes, as investigações falhavam, por vezes as investigações triunfavam, e nessa balança trilhavam o bem e o mal; dando possibilidades a bordões afirmando que o crime perfeito não existe, bons tempos em que o crime perfeito era só uma possibilidade.

A dicotomia, na hipótese aventada, seria perfeita se não houvesse, ou seja, se entre o bem e o mal, só houvesse o bem... pura utopia; mas isso até nos trouxe a possibilidade de criarmos super-heróis, sabendo que há o mal, se estabelece um bem, para neutralizá-lo, ou combatê-lo, assim nasceram os mitos; o importante é saber que há o mal, e, consequentemente, o bem.

A evolução, a tecnologia, desfizeram esse mundo maniqueísta, profetas já afirmavam que o homem seria escravo da evolução, e, concretizando, a evolução chegou para desfazer pilares de outrora: mocinhos e bandidos, injustos e justiça.

O mundo virtual descaracterizou a ordem natural do crime, onde o crime era cometido por uma pessoa, e, teoricamente, os agentes policiais perseguiam e, eventualmente, capturavam os criminosos.

A emancipação criminosa chegou com o mundo informático, sim, a informática criou um novo perfil criminoso, aquele que não mostra a cara, que não sai do covil para atacar, e sem braços, sem pulsos, onde caibam algemas.

O crime é robotizado, é volátil, quase que etéreo, transparente e sem rastros; o crime hoje dá aos responsáveis pela segurança, uma abertura para que possam dizer: -Não há o que se fazer.

Os golpes são engendrados, de tal forma, que a vítima, de forma paradoxal, torna-se cúmplice do bandido; a vítima obedece a tudo que lhe é ordenado, como se a serviço do meliante estivesse. A vítimas são enganadas, e de forma aviltante facilitam o crime, levadas por fraude, por coação emocional, ou ameaças.

Inocentes são usurpados, coagidos, extorquidos e cruelmente esfacelados, por mentes criminosas, e em mentes não se coloca algemas, os criminosos são voláteis, invisíveis e impunes.

Os bandidos de hoje são como Papai Noel, trazem o saco... vazio, e os enchem com os nossos bens, e como Papai Noel que são, sabemos que existem, mas nunca os vemos

Como éramos felizes quando víamos os bandidos.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 21/08/2020
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