Uma crônica para Bob Star
UMA CRONICA PARA BOB STAR
Estava eu na minha sessão de terapia diária, tendo uma pia todinha só para mim, como falam por aí. Algumas frases de boas- vindas, outras de congratulações outras de reprimendas ecoavam de cozinha a dentro:
-Pára Bob!
- Ooooi, Bob, bom dia !
- Bob, eu também de te Amo!
-Bob, você é Hi Lander?
-Calma, Bob, são apenas mascarados bonzinhos! São amigos!
Olhei pelas venezianas da porta para saber quem era o tal. Quando o vi, dei um moxoxo :
- Fosse pelo menos um cão de raça!
Já ouvira falar de um cachorro que pegara o celular de um funcionário e foi deixar dentro da piscina. Resmunguei comigo mesma:
-Deve ser esse aí. Se fizer isso com o meu , vai ver o que é bom pra tosse de cachorro!
Chegou uma mulher, ele cerrou e mostrou todos os dentes, os caninos e todos os outros caninos, que os humanos não os tem.Arreganhava tanto a boca para os lados,que dava até pra ver centímetros de gengivas rosadas. Falei:
-Pronto! Vai atacar, cuidado! Cuidado! Ele vai atacar!
E o cachorro correu para os braços da mulher que lhe disse palavras de carinho. Segui com a sessão e mais tarde, coloquei a máscara para levar o lixo, se ele viesse me atacar por causa da máscara....logo já estava preparada de vassoura na outra mão e tudo mais. O Bob ficou me olhando, olhando... Mais tarde, perto da hora do jantar, preparei suculentos bifes e fui para a varanda. Lá estava ele, perecia que estava me esperando. Ficou na minha frente, olhando e olhando...E eu, que nunca fui adepta a pets, falei aquelas frases que as pessoas falam quando são aborrecidas pelos outros:
- Vai caçar formiga de fraldas, Bob! Vai procurar polvo de calça comprida na praia, vai !...E o cão, nada !... Vai olhar se estou na esquina !
Queria me livrar daquela presença pedinte e lancei um fiapo de carne. Pronto! Foi o suficiente para selar uma aliança de fidelidade. Nas caminhadas, lá estava o Bob, às vezes, à frente, outras, na retaguarda.No começo, fiquei receosa, mas depois, o cachorro me convenceu de que estava ali para me proteger. Aparecia e desaparecia e um homem falou:
-Ei, dona, seu cahorro se meteu em uma briga ali!
Eu falei cá com o meu chapéu de sol:
-Meu, mesmo, não!
Só sei que chegamos juntos de volta. Passei a observar o cachorro. Quando as crianças brincavam no jardim, o Bob se posicionou no portão principal, em posição de guarda. Patas espalmadas no chão, esticadas para a frente, passando da cabeça , o dorso mais alto do que esta e o olhar focado no ponto de atacar, parecia a esfinge Gizé. Ficou imóvel, e eu nada entendi. Pois não é que veio um cão gigante, daqueles raçudos, que aterrorizam até o capeta! Bob saiu em disparada, latindo, latindo, e como dizemos nós, bons cearenses, botou o cachorrão para correr. De tardezinha, quando olhei , o Bob estava surfando sobre uma prancha de body board, tão equilibrado que parecia um atleta de stand up. Quando as ondas vinham, Bob caía, mas logo subia e se equilibrava novamente orgulhoso e magistral. Achei aquilo incrível e todos apreciavam aquelas peripécias. Todos tiravam fotos do Bob e com o Bob. As crianças todas querem levá-lo para casa.
Percebi que podemos aprender até com os cães. Entendi mais uma vez, acho que já havia até esquecido - mas o Bob me lembrou- que o preconceito nos priva de muitos momentos de felicidade. Que, muitas vezes, o que naquilo era desconforme apenas por conceitos radicados, o caminho confortável e que empatia nunca é demais , apesar de o novo nos parecer desconexo com o que temos enraizado dentro de nós. Tive que ter uns dias de convivência com o BOB para aprender a chamá-lo de Bob Star e ele bem que atende, parece até que percebe que troco o b pelo p e que aprendeu inglês, respondendo com a boca arreganhada, com os dentes à mostra. O que antes eu pensava que era ameaça, é um grande sorriso. E eu que nem sabia que os cachorros também sorriem em sinal desolicitude..
Professora Maria Edneuda Oliveira Pinto.