(Foto tirada por ele - naquele tempo ele andava com uma camera a tiracolo tirando fotografias de tudo)

A DOCE ARTE DE AMAR


Ontem fiquei a pensar em todas as sensacoes que tive quando encontrei meu primeiro amor. Na verdade, eu nao era adolescente. Tinha 21 anos.
Naquele tempo ele fazia o ITA (Instituto Tecnologico de Aeronautica) em Sao Jose dos Campos, uma Faculdade onde so entravam os cobras.
Fui no Baile do Bicho, e era o seu primeiro ano na Faculdade, ele se aproximou de mim e disse: "Quer ser minha madrinha?".
Eu me lembro que eu  estava com um vestido verde, longo, e ele me apelidou de Princesa de Verde. Eu tinha 21 anos, ele 19.

Ele era um sol que entrava na minha janela, forte, poderoso, brilhante.
Era mais jovem que eu, vibrante, alegre, um sorriso que parecia ter sido esculpido em seu rosto. Menino, fazia-me sentir num mundo a parte. Na inocencia do sentimento. Na troca de olhares.
Era assim o sentimento que ele me trazia. De uma pureza, de uma transparencia,de uma ternura desmedida.

Lembro-me tao bem que quando terminamos, eu sentada na cama, chorava, dizendo a minha mae: "Nunca mais vou gostar de ninguem assim". E minha mae dizia: "Vai sim...isso passa". E ela estava certa. Passou. Mas aquela "marca" ficou dentro de mim esculpida, como de um tempo que existiu. E a ternura, ficou plantada no meu coracao como uma flor, que pensei que jamais morreria.

O tempo passou...e sempre este sentimento esteve dentro de mim, nao como um "amor vivo", mas como aquelas lembrancas marcantes, suaves, que ficam como cenas de filme na cabeca e perpetuam-se os gestos. Um querer bem profundo, sem segundas intencoes, um amor  doce.

O tempo, em seu modo carrasco, tira a inocencia, e cruelmente apaga aquele quadro pintado, que ficou pendurado tanto tempo na parede das nossas lembrancas. Dilui-se a essencia, as cores tornam-se palidas, os gestos de amizade, de carinho, esfumacam-se.

Meu primeiro amor...
Amor-coracao, Amor-ternura, Amor-inocente, Amor-Sorriso...
Apagou-se no tempo, como uma vela que perde o brilho de sua chama.


PRINCESA DE VERDE
 
há anos luz
nem sei contar o tempo
talvez em duas mil luas?
eu tive o galho mais alto
de uma árvore gigantesca
que ficava na curva
de uma esquina
nesse tempo
eu tive também uma rosa
que permaneceu guardada
naquela roseira
que nunca foi arrancada
mas me foi dada por você
numa noite com luzes multicores
fui uma princesa de verde
quando meus sonhos
nasciam como flores
e quando os desenganos
nao doíam tanto
como doem agora
naquele tempo
havia uma clareira
onde nos beijávamos
até ficarmos sem ar
trocando juras de amor
como se não pudéssemos
nossa ausência suportar
havia versos de Neruda
ao som de "Goodbye Yellow Brick Road"
cantado pelo Elton John
houve um tempo
que olhei com tanta angústia
o galho desta árvore
a flor naquela roseira
e a sombra da nossa clareira
hoje a sua ausência
tornou-se apenas um sopro
perdido num tempo longínquo
de adolescência

 
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 20/08/2020
Código do texto: T7041104
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