AMIGOS.

Amigos, próximos, como irmãos tenho pouquíssimos, dez, amizade de mais de meio século, desde menino, mas para todas as pessoas é difícil definir o perfil do que é amizade, coisa desconhecida, quase como o surgimento da vida e a formação do pensamento. Seriam o “sal da terra” da passagem bíblica? Não creio, o sal é efetivo e definitivo no dar sabor, sempre, “amigos” por vezes surpreendem e tiram o sabor, precisamos compreender, nesse tema compreender até a incompreensão, ao sal não, é sempre o mesmo. Com esses amigos nunca tive surpresas, conheço-os e eles me conhecem.

É como na Suiça nos Cantões, funciona o “princípio da confiança”, você nunca será surpreendido, sabe quem caminha ao seu lado.

Mas nunca tive surpresas, eletividade sepulta surpresas, e assim procedo. Impõe-se, na amizade estreitada em aproximação, linearidade de princípios.

Mas, diga-se, não há incondicionalidade em amizades, e adite-se, não poderia haver, amigo não é mãe.Para muitos há uma relação inexistente nessa amplitude, existiria mero “conhecimento”, as vezes de muito tempo. E quem ou quais não acreditavam em amizade? As grandes cabeças, reverenciadas e cultuadas. Leia-se Aristóteles, e outros.... É uma realidade dura e crua? É! Ocorre isto por quê?

A vida é regida pelo interesse, econômico e moral, isto é uma realidade, queiramos ou não. "direito é o interesse econômico e moral protegido pela lei", Ihering, nada melhor como definição concentrada e universal. E mesmo o interesse moral, subjetivo, imaterial, sem valor de moeda, ou qualquer outro valor material, reside e habita a seara das emoções, onde se situa a alegria. Um grande valor, sem dúvida, e por isso há interesse. Ninguém quer estar ao lado de pessoas desagradáveis, depressivas, problemáticas, invejosas, complicadas, ególatras, maledicentes, pretensiosas, caricaturas de “ser gente”. Só uma franciscana caridade suporta tais personalidades, tolera, muitos suportam.......em nome do Cristo. Não tenho essa grande qualificação. Peco por franqueza irreverente, sou mais sincero que a sinceridade, e um pouco “carcamano”, afinal corre em mim o sangue e a rispidez italiana, mas também e felizmente o gosto e a emotividade. Por isso sou aberto e declino o que acho, e posso estar errado, me corrijam e façam o contraditório àqueles com quem fui franco.

Não se pode pedir das pessoas aquilo que não podem dar, assim, não se deve esperar do amigo estar disponível a qualquer momento, as vezes alguém que nunca estará, disponibilidade e solidariedade que não serão concedidas, pois o socorro ou algo de que se necessite pode estar em conflito com o conforto do “amigo”, disponibilidade que nem familiares são credores, por vezes. É a personalidade da pessoa, seu perfil que não temos o direito de pedir mudanças, aceitamos ou não, convivemos ou não, reduzimos o convívio ou não. É necessário forte traço de humanidade, caridade, e preparo espiritual para tanto, ser cristão, ter o plenipotenciário tribunal da consciência; implacável por estar dentro de nós, o que ocorre comigo. Tenho amigos entre esses dez que estão disponíveis para tudo e qualquer coisa em qualquer lugar ou hora. Sou assim também como pessoa.Outro que por conveniência pessoal recusou fazer o que outro imediatamente fez. O quê? Me trazer uma certidão negativa de débito fiscal do lugar que trabalhava. Uma bobagem. O que fiz? Na sua frente telefonei para o outro amigo que trabalhava no mesmo lugar e solicitei o pequeníssimo favor. Respondeu na hora, Ohh Celso, claro, amanhã está na sua mão. Agradeci e olhei para as “fuças” desse outro “amigo”, como dizendo “viu como você é um imprestável?” Mas ele é assim com todo mundo. E me deveria coisas que por ele fiz , muitíssimo de grave importância. Mas “guento”. São sessenta anos de irmandade. E gosto dele, mas é assim até com familiares.

Tive duas pessoas muito aproximadas hoje ao largo, amigos com quem muito curti, muita coisa, solidários. Salvei-os profissionalmente, com imenso prazer, faria de novo, quantas vezes fosse necessário.

Tenho amigos maravilhosos, uma alegria quando nos encontramos na rua, ou falamos ao telefone, esquecemos o tempo. Uns oito almoçamos todo mês juntos, uma farra de duas até oito horas, amigos de meio século. Mas vamos levando, também, com os que são “imprestáveis, na verdade um só, e fazemos sem nenhuma obrigação, de forma cristã, todas as amizades, por pura alegria e prazer, mesmo as que podiam restar na indiferença, por qualquer motivo, passado ou presente, aconselhado por nossa vivência, pois são seres humanos, com fragilidades e problemas existenciais, todos nós somos, mais ou menos frágeis. É preciso saber o que somos. Acho que sou o mais frágil dos meus amigos, ao menos de coração.

Também tenho defeitos, muitos, sou mais franco que a franqueza e irreverente na brincadeira, mas acho (achismo) que sou leal ao extremo, e solidário, minha jornada de vida deve provar a afirmação, e a vida, a jornada, também se prova. A vida é uma prova e tem publicidade. Abomino dissimulação, ingratidão, sem que esta me incomode, já que de nada espero retribuição. O que faço é por vontade de servir. Tenho a admiração de meus amigos, sei disso, eles a manifestam de maneira clara, a todo instante, a ponto de me comoverem, também os tenho em alta conta. Os que ficaram na estrada, a saudade e o que vivemos em comum, permitem que o coração ainda fique em festa, passando o filme de nossas aventuras, lembrando o tempo de nossas felicidades compartilhadas.

Podendo cultivemos as pessoas que são amigas, exista ou não esse relacionamento tão subjetivo e muito discutido em desdobradas questões.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 20/08/2020
Reeditado em 20/08/2020
Código do texto: T7041076
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