“DEUS [E QUEM ELE ESCOLHE PRA LHE REPRESENTAR] NUNCA ESTÁ ERRADO”

Quando a razão é suplantada pela emoção e o “revelado” substitui o legislado, só Deus para antever os resultados.

Claudio Chaves

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NÃO precisa ser doutor em Exegese ou Hermenêutica pra perceber – o que, aliás, é até um dito popular –: “Deus nunca erra”.

ELE, segundo a Narrativa Sagrada, por livre e espontânea iniciativa, criou o homem e, nele, colocou a capacidade [livre arbítrio] tanto de absorver quanto de repelir o mal. O restante da história todos sabemos.

APESAR do projeto ter sido uma iniciativa única e exclusiva de Deus, Ele não tem culpa de nada – e ai de quem ouse insinuar o contrário!

POR preferir se contrapor (mesmo tendo capacidade para se justapor) ao projeto divino, além de perder o Paraíso (com todos os seus benefícios) e se tornar mortal, o homem atraiu para sua descendência coisas nada agradáveis, como: escravidão, miséria, todo tipo de homicídio (fratricídio, parricídio, matricídio, feminicídio...), idolatria, incredulidade, apostasia, pedofilia, exploração, opressão, enfermidades, pandemias, medo, desesperança...

MAS se Deus é perfeito e misericordioso, e o homem, embora bem intencionado e esforçado, é falho. Alguém precisa pagar essa conta, não?!

ISSO! É ele mesmo: o “coisa ruim”, o “encardido”, o “molambudo”, o “satã” ou simplesmente diabo – ele, ora como serpente ora como anjo – é o culpado de tudo!

DEUS, que criou o homem, é, além de perfeito, justo, amorável e misericordioso. E o homem, que foi criado por Deus, é o realizador de todas essas maldades. No entanto, no fim, se aceitar a proposta de redenção divina, será absolvido, e ele, o “encardido” – que não criou ninguém nem praticou os crimes cometidos pelo homem [mas o induziu e o seduziu] – será exterminado.

NÃO! Eu não sou advogado dele – até porque se ele precisasse, certamente contraria um que, de direito e de fato, tivesse competência para defendê-lo.

TÁ achando complicado?

SABE como se chama isso?

SUBJETIVIDADE.

OU SEJA, quando o parâmetro de julgamento (e discernimento entre o certo e o errado) passa a ser apenas a consciência (e não os tratados civis – leia-se: leis – acordados entre os homens) de quem julga, nada é tão “absurdo” que não possa ser justificado nem tão incompreensível que não possa ser aceito – afinal, trata-se do sagrado (“Deus acima de todos”); e quem ousará contestar o Eterno?!

ISSO – a subjetividade como base e fundamento para a validação de qualquer ação – é o que está acontecendo [e continuará, caso se dê prosseguimento à substituição, se não de direito, mas de fato, da Democracia pela Teocracia) no “Brasil dos novos tempos”.

NÃO é objeto do presente comentário o debate do mérito dessa experiência – isso fica para os especialistas –; mas tão somente sua constatação.

SENDO assim, o máximo que um influente líder dito cristão pode fazer contra todos os males que o consumo de tabaco e álcool (e quem sobrevive e enriquece com tais indústrias) causa é orar e tentar convencer pessoas a, voluntariamente, se afastarem dessas drogas. Porém, mesmo não se tratando de drogas (mas de cosméticos), caso a publicidade da marca “atente contra os valores cristãos e ameace destruir a família criada por Deus”, contratando um garoto-propaganda trans, além de todas as maldições possíveis, esse influente pastor cristão tem a obrigação e o sagrado dever moral de convocar a irmandade para um boicote santo a tal da marca pervertida.

DA MESMA forma, se professores (mesmo sob juramento profissional de se comprometer com a formação integral do ser em desenvolvimento – criança, adolescente e jovem – e amparado pela diretriz curricular da transversalidade do ensino) colocarem no currículo escoar e na sala de aula temas que abordem o sexo (biológico) e a sexualidade humana (e toda sua complexidade, beleza e essência), bem como cuidados com a higiene pessoal e os naturais e geracionais conflitos de gêneros, tais profissionais, além de correrem risco de condenações legais, deverão ser objetos do linchamento moral público, como criminosos hediondos, além de, inevitavelmente, incorrerem na condenação da inescapável ira divina – e tudo isso por influenciarem e manipularem inocentes crianças, adolescente e jovens, induzindo-os aos mais reprováveis tipos de perversão sexual e moral.

PORÉM, caso uma criança (feminina) venha a ficar grávida como resultado de anos de abuso sexual e, por ordem judicial, com consentimento da família, se faça a interrupção da gestação, quem assim age comete um “crime hediondo” – sendo que, nesse caso, quem define o que é “crime hediondo” não é mais a legislação do País nem os seus magistrados, mas os intérpretes dos Escritos Sagrados; e a criança – que, no caso dos debates em sala de aula, seria vítima de perversão sexual e ideologização – passa, no caso do estupro, a ser culpada [pois "podia muito bem ter se defendido"] e, por conseguinte, também uma pequena criminosa.

E POR QUE alguém, em sã consciência e em plena vigência do Estado Democrático de Direito, concordaria passivamente com tal absurdo?

ISSO chama-se: consequência da legitimação (explícita ou tácita) [por parte de quem acata] do poder absoluto, inerrante e inconteste da subjetividade.

LEMBRE-SE: Deus nunca está errado! E, por conseguinte, nunca o estão aqueles a quem Ele escolhe para representá-lo na Terra e, através de sua interpretação particular do que é sagrado (e do mundo como um todo), guiar o Seu povo por aqui.