Procura-se um escritor capaz de descrever em palavras, os sentimentos que habitam o mundo. Que faça cócegas na alma para que o sorriso frouxo seja percebido de longe. Que guarde seus sentimentos num pote de esperança enquanto acompanha a gestação do coração, naturalmente. Um escritor que fale de amor com propriedade, sem contudo, roubar-lhe sua essência. Que tenha um romance consigo para casar emoção e racionalidade de forma harmoniosa e segura. Um ser que acorde os sonhos sem assustá-los, para que não fujam à sua origem. Claro que não precisa ser expert em teoria literária, afinal a sabedoria não está restrita aos que penduram livros no varal da lembranças para juntar as roupas da alma, num guarda-roupas de sentimentos. Um apaixonado pela visão do cotidiano, capaz de captar num olhar uma despedida e num adeus, a identidade sendo apagada, por uma borracha que deixa marcas pelo chão de estrelas. Sobre a escrita: que seja leve feito as plumas de algodão, mas ardente como fogo em braseiro. Um gentleman das letras, que abra a porta para o encontro das palavras afins e produza contos que trafeguem entre as nuvens, à espera da lua, aliada dos amores adormecidos pela essência perfumada exalada pelo coração em ritmo de festa. Que esqueça “seu eu” no primeiro semáforo da vila dos sonhos, para buscá-lo mais tarde, quando passar o tráfego intenso do impulso: a estupidez humana não deve ser revelada na intransigência.  Um catador de palavras que calce os sapatos alheios e mostre que a dor também se sente por osmose, na elevação do pensamento que paira no ser. Um escritor que debruce sobre a escrita seus cotovelos e se faça namoradeira... Até a ideia chegar. E se não vier, que saiba esperar o tempo. Procura-se um escritor que namore a escrita, enquanto ela, traiçoeira, beija outras almas pelos olhos.
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 18/08/2020
Reeditado em 19/08/2020
Código do texto: T7039226
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