A Geração Y e a Felicidade
Outro dia li um artigo, de autoria americana, sobre por quê os jovens da geração Y estão infelizes. Trata-se da geração dos nascidos entre as décadas de 1970 até meados de 1990. Seus pais são os Baby Boomers, nascidos no pós-guerra, na década de 1950. Ser pós guerra faz uma diferença grande nos os países mais atuantes na 2a. Guerra Mundial, mas no Brasil, nem tanto. Entretanto, como tudo de lá reflete por aqui, não é difícil nos identificarmos como o que diz o artigo. Mais especificamente, o foco são aqueles com 30 e pouco anos, que já se formaram, e que estão no início de sua carreira profissional.
O artigo discorre mais sobre a infelicidade no campo profissional mesmo. Por que jovens bem formados, inteligentes e bem-sucedidos estão infelizes? Basicamente porque têm expectativas muito acima do que podem realizar. Não porque não as realizam por incapacidade ou impossibilidade, mas porque criam expectativas muito além da realidade que podem construir. E a razão apontada é que foram levados a crer, pelos pais, que eram pessoas especiais, muito especiais. Ou seja, acima da média, melhores, mais capazes. Isso sem que de fato assim fosse, simplesmente porque foram amadas e foram criadas numa época de supervalorização do amor filial. Até hoje tem sido assim.
Não importa como é seu filho, se inteligente, limitado, bonito, feio, tímido, arrojado. Se ele acreditar que é o melhor que se pode ser, que é especial, então tudo vai bem. Às pessoas especiais, o futuro reserva só sucesso, realizações e felicidade, certo? Nem sempre. Ou melhor, quase nunca! Isso é o que diz o artigo. Pessoas especiais só se realizam se estiverem no topo, vendo todo o resto a seus pés. Nada que não seja assim, com muito pouco tempo e esforço para se chegar lá, significa fracasso, derrota, infelicidade. E assim nossos jovens especiais nunca vêm seus sonhos realizados. Na verdade, vêm sim, mas não os enxergam. Quando estes se realizam, já são outros os sonhos atuais. Maiores, pois, iguais àqueles, muitos já haviam conquistado.
Muitas vezes, mesmo galgando rapidamente uma carreira de sucesso e alcançando cargos máximos em pouco tempo, nosso jovem não se realiza; precisa de mais. E, quando se frustra pra valer, a reação vem na mesma proporção do tamanho do sonho, em sentido contrário. A primeira reação é culpar a própria família que o fez escolher essa profissão, e não aquela, menos promissora, mas que certamente o faria mais feliz. Como especial que é, toma decisões movidas mais pela emoção do que pela razão. Ao invés de buscar caminhos dentro da própria realidade, joga tudo para cima e, diferentemente de todos ao seu redor, escolhe viver um tempo de vida alternativa, diferente, de preferência em outro país, outro continente, voltada ao conhecimento pessoal, à doação espiritual, e todas essas coisas que não fazem parte da nossa cultura. Talvez fosse mais prático e menos arriscado procurar uma boa terapia, não sei, mas quem sou eu pra saber?
E os pais nessa hora? Pais de pessoas muito especiais estão sempre presentes. E sempre apoiam seus filhos, nem que seja com dinheiro, que é o apoio mais fácil, quando possível. Talvez porque pensem que apoiar significa concordar, o que pode ser um engano. Apoiar também tem o sentido de estar por perto, socorrer, aconselhar, alertar, esclarecer, ensinar, facilitar uma tomada de decisão, sem que isso implique em concordar. A quem mais, se não aos pais, que são os que mais querem a felicidade do filho, cabe o dever de lhe mostrar que a infelicidade, a frustração, a solidão, o sofrimento, mais até que a felicidade, fazem parte da vida humana?
É natural que os pais queiram proporcionar felicidade aos filhos, mas é certo também que os pais não são capazes de determinar como e onde os filhos vão encontrá-la. Não são donos da verdade. Se refletirem bem, descobrirão que tampouco souberam fazer de suas próprias vidas aquilo que almejam para seus filhos. Será porque não eram tão especiais quanto eles? Certamente não. Simplesmente porque seus pais estavam mais ocupados com sua subsistência do que com sua felicidade. Investiram num futuro seguro, e não num futuro feliz. Eram menos sensíveis? Não, eram pragmáticos, já sabiam que a felicidade é efêmera, fugaz e imprevisível.
Não se alcança a felicidade trançando um plano como que se faz com um diploma. A felicidade é muito mais complexa (ou simples?) do que uma lista de objetivos cumpridos. Não é por acaso que existe a expressão “conquistar a felicidade”. Não a conquista por mérito, a conquista por luta. O verbo usado é “ser” e não “estar”. Estar (in)feliz já antecipa o deixar de estar (in)feliz. Ser feliz resume toda uma vida, um conjunto de decisões e acasos que o levou ao que é hoje. Significa todos seus golpes para conquistar a felicidade, esse ser inanimado, invisível, que quase nunca é reconhecido quando se aproxima.
Criados com amor e atenção, esses jovens devem invejar seus pais por terem começado a viver suas vidas sob suas próprias decisões, para o bem ou para o mal, não importa aqui, quando eram muito mais jovens do que eles. Além de frustrados, os jovens da geração Y correm o risco de serem conhecidos como os adultos que mais demoraram para ter sua própria vida, na sua acepção mais ampla. E nós, seus pais, seremos os pais de eternas crianças.
(2 Fevereiro 2015)