A Forja
Havia uma forja. Nela eram feitos os mais variados utensílios de corte e d'ela saíam as mais belas adagas, facas, espadas, lanças, lâminas retas, recurvas ou qualquer outro tipo. O Ferreiro era um profissional que trabalhara desde sempre naquilo; sua vida era a forja. Ele possuía as mais belas espadas e lâminas, todas muito bem afiadas, adornadas conforme a sua vontade e usadas de mesmo modo. Possuia imenso carinho e apreço em seus utensílios que fabricava e guardava tudo sempre. Se quebrada, se gasto, se sem fio, se afiada, se com solda fria, se com delaminação, se com lascas, sempre as guardava.
Um belo dia, disse ele: "Vou fazer uma espada diferente, muito potente desde o damasco, pois ela será muito usada; desde o damasco. Com ela ganharei muitos embates e farei grandes coisas das quais muitos não entenderão. Eu a amarei muito e será preparada de um modo todo especial, de modo que, porei nela a capa mais linda, que já tenho, farei mais alguns ajustes e ambas cooperarão, amando-se sempre."
E assim se sucedeu. Disse ele que iria confundir a muitos ferreiros, de modo que não entenderiam sua obra e, sendo assim, não pegou as suas melhores barras de aço, muito bem trabalhadas e fundidas, mas foi ao seu quintal e procurou por aquilo que lho atendesse, até que achou. Acaso seria uma barra com um aço carbono possuidor de tanto carbono que a própria barra metálica se tornaria tetravalente? Ou então um metal fundido e batido em altíssimas temperaturas e de magnânima resistência e duração? Não. Nos fundos do quintal, através d'um matagal, numa terra umida e mofada, em uma poça de água, ali estava a barta de metal perfeita! Imunda, carcomida, velha, nunca processada e por grande coincidência, possuia alguma densidade interessante para se trabalhar. Ele pegou-a nas mãos cálidas e fortes, dizendo: "Achei a minha linda espada!", pois ele não a visionava como uma barra de aço destruída e feia, mas já a via como a sua espada, juntamente com sua capa que, mesmo sendo criada muito antes d'ele achar o aço no quintal, já sabia de seu destino, nunca entregando-a a nenhuma espada.
Já na forja, começou seu trabalho. Não seria fácil, muito menos rápido, maa seria no tempo certo. Por primeiro, lavou a barra e começou a limpá-la, tirando todas as impurezas e imundícias que nela habitavam. Lichou-a muito, para remover suas marcas e profundos defeitos e após isso, devido a sua densidade interessante, a pôs em uma caldeira e ligou-a em altíssimos graus centígrados e lá deixou por extensos dias, regulado o nível da chama para que não evaporasse. Era necessário ainda tirar as imundícies internas e refiná-la. Tirou a escória do metal para que estivesse puro.
Após determinado tempo, retornou a caldeira e pegou chapas para moldar barras. Derramou sobre trinta moldes aquele aço e o deixou por outros dias esfriando e enrijecendo nos moldes e após outros tempos, tirou-as dos moldes. Tendo, pois, purificado o aço e trabalhado nele, podia agora começar a preparação de sua espada. E assim o fez. Após obter as trinta barras de aço, colocou todas na forja para aquecê-las e estando elas - depois de um tempo - bem quentes e maleáveis, começou a martelar, uma por uma, até todas se juntarem, formando assim um damasco único. Colocou novamente na forja e após outros tempos, tirou, só que agora que começaria a ser modelada. Pegou não um martelo pneumático, mas sua própria marreta e sua bigorna e começou a moldá-la à mão. Bateu e bateu, modelando vagarosamente sua espada conforme a sua vontade, tornando ao fogo várias vezes até que estivesse no formato que o ferreiro queria que obtivesse. Estando no formato almejado, esquentou-a novamente no fogo, só que agora seria um evento diferente, um divisor de águas, pois se suportasse a este evento, estava apta para uso.
Trouxe ele o tanque de óleo; o evento se chamava têmpera e era a provação de toda a força e resistência das lâminas. Muitas empenavam; muitas rachavam; muitas se quebravam, mas aquela que resistia, sempre era tratada com emérito. Então, já aquecida, ele a mergulha no óleo. As labaredas dançam ao som do choque térmico provocado pelo intenso calor do metal e ao material inflamável e frio que era o óleo e, ao tirá-la do tanque, sai sem nenhum defeito, perfeita e intacta.
Agora, veio a parte final do processo d'aquela espada, que eram os detalhes finais: o pomo, o cabo, o fio, o lichar do material excessivo, o polir, e todo o resto. Primeiro, pegou ele madeira de carvalho escuro, ouro e seu anel-selo pessoal.
Secundariamente, fez um preparado de cola para que pudesse colar a madeira; lichou e moldou à mão o cabo e assim o efectuou.
Terciariamente, levou a lâmina para a licha, e ficou lá por um dia inteiro, sem dormir nem intervalos, eliminando todos os excessos que ele não desejava. Pôs o cabo de carvalho negro, juntamente do pomo e da guarda, ambas de ouro e as fixou; firmes.
Quartenariamente - e finalmente - com a espada já em mãos, pegou seu anel-selo e marcou seu brasão a fogo no centro da guarda, dos dois lados e, após isso, foi para a licha para deixá-la plenamente funcional. Por extensos sete dias esteve a lichar seu fio, calmamente e com meticuloso cuidado, muita paciência e zelo e, depois, lustrou-a mais. Sua espada estava pronta. O ferreiro olhava ela e com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso de bochecha a bochecha dizia: "Quem diria que aquele metal imundo e imprestável se tornaria esta linda espada!" Pôs ela na capa e encaixou-se perfeitamente. Com ela ganhou muitos campeonatos e com sua história, maravilhava a muitos e confundia a outros, cumprindo-se assim o que disse.