Coisa de Cinema

“O cinema é um modo divino de contar a vida”.

Frederico Fellini

Se a quarentena nos afastou do convívio dos amigos, dos passeios, da vida cultural e demais interações presenciais, ela nos fez ficar ainda mais conectados. Nunca se postou tanto, nunca se zapeou tanto, nunca se viu tanta live e tanto zoom.

Comigo isso também aconteceu. Não me considero uma pessoa com muitas dificuldades tecnológicas, inclusive cedo tive que me adaptar a esse mundo por força do trabalho. Assim, não foi difícil me acostumar com a nova rotina de reuniões virtuais, que servem principalmente para matarmos as saudades daqueles que lá estão, nos quadradinhos. Com tempo sobrando, pude colocar em prática um desejo antigo: Um grupo para discutir filmes. Não só um, mas dois.

O primeiro grupo, hoje com onze componentes, surgiu a partir de uma conversa com integrantes de um grupo maior do qual eu participava. Joguei a ideia e algumas pessoas se interessaram. Criei o grupo no zap, sem muita pretensão e organizamos uma escala para que cada um tivesse sua hora e vez de indicar um filme, segundo sua preferência. Passei a organizar as reuniões no zoom e fomos começando.

A princípio apenas comentávamos os filmes. Alguns mais detalhistas e técnicos, já outros comentavam a partir de seus sentimentos e percepções. Até que um dia um filme francês mudou tudo, pois sua bela história encontrou eco nas vivências de uma participante. A arte e a vida se encontraram numa forma bonita e afetuosa e ela generosamente partilhou esse capítulo da sua vida com o grupo. Estava criado o vínculo. Já não era mais um grupo que se atinha a um conteúdo cinematográfico, e, pessoas que nem eram tão próximas, criaram um elo de amizade, carinho, confiança e partilha. Nossos encontros acontecem virtualmente duas vezes por semana, mas a interação agora é diária. Já completamos trinta filmes vistos e discutidos e creio que temos fôlego para ir bem mais além. Inicialmente usávamos a forma gratuita do zoom, que logo se mostrou insuficiente para nossa interação. A solução foi passar a usar a forma paga, que é dividida entre todos. Planejamos também encontros presenciais para quando isso for possível e cada reunião nos traz novas e felizes descobertas.

Animada com o resultado do primeiro grupo, propus a três queridas amigas de longa data que, por sinal são irmãs, que repetíssemos a experiência. Ao nosso quarteto foi incorporada uma nova participante, que talvez por estar em Minas, contribua com uma dose extra de doçura. Nosso encontro acontece nos finais de tarde de domingo. É o nosso chá cinematográfico. Aguardo ansiosa por essas tardes. O curioso é que estamos em cidades diferentes, mas a proximidade é tanta, nem parece...

Participar dos grupos de cinema me trouxe um encantamento ainda maior pela sétima arte. Agora minha percepção é outra. Costumo dizer que nunca vemos um filme duas vezes, pois certamente quando o vimos antes estávamos em outro momento de vida e agora o vemos com outro olhar. Se em algum dia eu fosse elencar os aprendizados da quarentena, certamente meus grupos de cinema mereceriam um Oscar.

Vania Rebelo
Enviado por Vania Rebelo em 17/08/2020
Código do texto: T7038153
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