A Avaliação do Livro

Compreendendo a minha falha em iniciar uma nova leitura e minha falha escassa de interesse em adentrar em um novo mundo no qual alguém sucumbiu horas de árduos pensamentos e temas, eu decidi ir atrás de alguma resenha literária da obra em questão.

Naveguei por sites de vendas de livros, por sites de resenhas literárias e por redes sociais, mas em todos os meios que eu achava algo sobre tal obra: eu não conseguia me prender na leitura. Simples assim.

Eu lia duas linhas de sinopse, e fechava a página. Eu lia o título da resenha, e fechava o site. Eu lia três palavras da resenha de alguém, e fechava o aplicativo. Cheguei a pensar que eu estava carente de conhecimento sobre algo que eu ainda não sabia exatamente o que era. Pensei que eu talvez estivesse doente e acabei decidindo deixar o livro para lá. Decidi então reler Dostoievski, afinal, ele nunca me decepciona.

Perdi meus dias vagando pelas ruas de São Petesburgo mais uma vez e não me arrependo de nada.

Porém, após esses fatídicos desencontros, eu decidi, por fim, comprar o livro sem saber nada sobre ele. O que de pior poderia acontecer? Já jogo dinheiro quase todos os dias no lixo com besteira mesmo.

Ao comprar o livro, desci até o final da página da venda para olhar a média de avaliações e acabei sem querer lendo o primeiro comentário sobre a obra. Comentário esse que avaliava apenas com uma estrela e na grande resenha estava escrito “vago”. Momento de intriga: eu precisava ler essa obra. E assim o fiz.

Devorei primeiro a sua capa, sutil, nada demais, uma boa capa. Olhei a dedicatória da obra e me perdi por um tempo nela. Eu adoro dedicatórias, sinto que elas carregam sentimentos que nunca iremos entender de verdade, transmitem a perfeição forjada por alguém imperfeito. Somos assim, lide com isso. Enfim, iniciei o livro, e sinto que eu não poderia ter feito coisa melhor naquele final de semana. A luz do abajur estava enfraquecida, meu coração estava nervoso, e o livro se debruçava sobre mim.

Levou-me até o seu final, sem ao menos me perguntar se eu queria chegar até ele, enfim, fui carregado por um solo de sax do Coltrane, enquanto eu me embebedava com algum café barato com cor de polvo. Nunca entendi muito bem o motivo que me fez ler aquele livro tão rápido, por fim, eu acabei entendendo o sentimento de quem achou ele vago, mas eu não pude entender o sentimento que fez eu me sentir completo. Como se os fins justificassem os meios, ou a vida justificasse a morte, ou se a luz justificasse o escuro. Perdi-me naquelas ruas durante o fim de semana que eu me perdia em uma TV fora do ar.

Mas eu não me senti capaz de avaliar a obra com apenas uma estrela, porém, eu não consegui avaliá-la com cinco. Eu seria mesmo apto para avaliar uma obra com a nota que fosse? Quem me deu essa habilidade da certeza, por favor, se apresente no meu escritório até o final do dia. Precisamos conversar, pois seu produto está com defeito.