SUBVERSIVO EM COMPOTAS

FAÇO uma pausa no assunto pandemia e nessa esculhambação do prende-e-solta Queiroz, além de outros problemas atuais chatos e tristes, para revelar um caso pessoal. Uma frustração abissal quando rasgaram uma das minhas fantasias.

Vejam bem, nunca pertenci ao partido comunista, mas sempre à minha maneira fui um esquerdista. Não seguia linha, liderança, era do tipo dissidente, chato, empata-samba.Mas, apesar de não me filiar a nada, sempre foi considerado não um comunista, socialista, esquerdista, mas simplesmente subversivo. Acho que as pessoas achavam que eu estava abaixo apenas uma fita do terrorista. Simples assim. Lembro que ao tomar conhecimento que eu ia casar com uma moça que era funcionária do MEB, um organismo da Igreja Católica, o bispo diocesano chamou-a e a sua família e advertiu-os de que eu era subversivo. Pesou um pouco a advertência, mas a moça optou pelo casamento. Não fiquei com raiva do bispo, sabia que quem tem fama deita na cama.

Bom, o tempo foi passando, ele caminha pra caramba, eu entrei no MDB, briguei e logo saí. Mas mesmo tendo entrado num partido legall não perdi minha fama de subversivo, quando entrava num local algumas pessoas começavam logo a cochichar. Depois fui alvo de denúncias sobre minhas ligações com os índios e o escambau, mas foi tudo desmoralizado, mas ficou a pecha de subversivo..

Mas, muito depois, quando abriram os arquivos do DOPS um gozador descobriu a minha ficha de subversivo. Tirou xeróx e fez cópias e distribuiu para uma porrada de outros gozadores. Fiquei puto, havia na ficha apenas meu nome, William Pôrto, data do nascimento, e seguinte anotação: "Em 1964 assinou juntamente com outros oreconhecimento do P.C.B. Título de eleitor....". Nada mais.

Imaginem a gozação. Rasgaram a minha fantasia de subversivo. Virei um subversivo em compotas. Fiquei juru. Juro. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/08/2020
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