Voo rasante



Enquanto tentava dar conta de um exaustivo exercício da atividade de hidroginástica, olhei automaticamente para o céu e me foi impossível não admirar aquele azul... Embora, naquele momento, talvez o foco fosse buscar energia. Não sei.
Ao baixar um pouco a vista, dei conta de um bem-te-vi, pousado no galho mais alto da mangueira da casa vizinha. Todo soberbo, denunciava, com o seu canto mavioso, o que os seus olhos vislumbravam.
O meu olhar ficou preso àquela imagem. Meus olhos buscaram rapidamente uma manga madura. Sei que todo pássaro gosta de frutas, mas sempre achei os bem-te-vis mais gulosos, mais barulhentos. Parece que adoram as mangas. Curiosamente, é sempre nas mangueiras onde os vejo com maior frequência. Esse, com certeza, viera atraído pelo doce perfume das frutas maduras.
Não parecia nem um pouco preocupado com a economia brasileira. Com certeza o prato do dia já estava encomendado.
Todo faceiro, exibia o amarelo do seu peito, que reluzia na luz do sol, que já começava a esquentar.
Esqueci por um momento o exercício proposto e fiquei observando a altivez daquele pássaro, que, sem se importar com o meu olhar cravado em si, perscrutava a paisagem ao seu redor.
Ficou assim durante um tempo. Tempo que eu não saberia precisar, mas que fora o suficiente para que minha mente refletisse acerca da perfeição da criação Divina.
O contraste do amarelo com o verde das folhas e com o azul celeste era perfeito! Simbolicamente, as cores da nossa bandeira estavam ali representadas. Até o branco da sua cabeça completava o cenário das cores.
Curiosamente, veio-me à lembrança as palavras de um amigo querido, que me disse não gostar da bandeira brasileira, embora tenha se emocionado ao vê-la tremulando num outro país – ao qual visitava na época. Fiquei estarrecida com a revelação, pois admiro o nosso pavilhão nacional.
Tão entretida estava que nem percebi a mudança de exercício. Foi preciso o professor chamar a minha atenção.
Voltando ao mundo real, ouvi alguém dizer:
– Hoje ela está rindo para o tempo, acho que viu um “passarinho verde”! – Motivo de boas gargalhadas entre as amigas.
Ainda sorrindo, eu disse:
– Verde não, mas amarelo, sim! – E apontei para o bem-te-vi, que, assustado talvez com o barulho do grupo, deu um voo rasante sobre nós, indo procurar outra freguesia.
Retomando os exercícios, ainda olhei para a mangueira e lamentei que o bem-te-vi tivesse ido embora. Desejei, nesse momento, ser um pássaro como ele, para voar bem alto e poder planar numa correnteza qualquer, apreciando, lá do alto, a beleza cá de baixo.
– Bom dia, bom descanso e até quarta-feira!
Como assim? A aula já acabou?!
Vanda Jacinto
Enviado por Vanda Jacinto em 15/08/2020
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