O OLHAR E A ESTRADA

Me incomodava o seu jeito de olhar em meus olhos, como se lesse minha alma e soubesse dos meus mais íntimos pensamentos. Esse tipo de gente é minha fraqueza. Ali, na beira da estrada, nós dois conversávamos enquanto a hora de ir para casa não chegava. À tardinha se esvaziava e o rompante da prosa era minha principal preocupação. 


Ocupava-me em esconder meus pensamentos daqueles olhos ávidos, prontos para saber de tudo. Outrora fugiria, mas decidi mudar de estratégia. A sagacidade talvez fosse minha arma naquele instante, uma vez munida dela, conseguiria desafiar aquele olhar e dizer, finalmente, o quão me apetecia a sua presença, mesmo encabulado.

Encarei! Nossos olhos se tocaram com uma força vibrante por detrás, impelidos de um querer devastador e dando conta do singelo e pulsante desejo de estar perto. Não havia mais dúvidas, venci a batalha. Aqueles olhos se tornaram minha fortaleza e, a cada aproximação, me dava a certeza do afeto existente e totalmente favorável a mim.

Sim, eu tive a coragem dos guerreiros e a sabedoria dos lordes ao meu lado, e me propus a duelar com aqueles faroletes os quais um dia me desafiavam. Foi um encontro angelical, lindo e forte. À minha frente só existia a ternura a qual eu tanto sonhei. Das inúmeras sensações presentes, a alegria se destacava gritando no meu peito.

E assim, me aninhei no seu abraço e pude ver aqueles olhos enfim fechados, mas bem vivos dentro de mim. No gotejar da chuva caindo na estrada, molhando as nossas cabeças, partimos. Para trás, ficou apenas nossas pegadas e a inabalável força daquele olhar, que agora misturava-se ao meu num encontro perfeito entre o querer e o estar.