NO TELEFONE

Alô... Cora? Aqui quem fala é a Lola. Oi tudo bem contigo? Pergunta boba, claro que estás bem. Vou te contar umas coisinhas, mas vê se não passa adiante, não é fofoca, podes ficar tranquila. Sabes que teu nome soa poesia? Quando me falaram a teu respeito fiquei curiosa em te conhecer. Foram tantos os elogios que logo resolvi marcar um café para nos conhecer melhor, confesso que gostei de ti, até ficamos amiga, não é mesmo? Quero te agradecer por aceitar meu convite de tomarmos um café juntas. Estava delicioso não é mesmo? ...O que tu não gostaste? Não acredito. Te achei lindinha, fofinha, meio manhosinha, meio chorona, mas não dê ouvido ao que as pessoas digam para ti, seja tu mesma. Tive a impressão de que tu és um pouco infantil, estou enganada? Deixa pra lá. Não responda nada. Fica na tua. Voltamos ao café. Fora uma tarde maravilhosa. Nos conhecemos profundamente. Passeamos pelo quintal, conhecestes a minha humilde casa, meus compadres, foi maravilhoso. Degustamos um saboroso café coado pelos meus compadres, eles são maravilhosos não é mesmo? Senti haver uma química entre ti e o meu compadre, mas não te preocupes, não estou enciumada. Ele é dado com todo mundo, um pouco chato as vezes, mas já estou acostumada. Um conselho de amiga, vai te acostumando com ele desta maneira, do contrário o estresse vai bater na tua porta. Não entendi o motivo de não gostares de doce, menina não sabes o que estás perdendo... Tolice tua, sua bobinha, doce é uma maravilha. Imagine uma nega maluca bem suculenta revestida com caldo de chocolate. Um biscoito de coco da colônia, uma rapadura, um bolo de morango revestido com glacê, uma goiabada cascão com queijo minas, que delícia, só de pensar já me sinto mais gordinha, brincadeirinha, tá... Não sei quem colocou na tua cabeça que doce faz mal pra ti. Quero descobrir tal pessoa e dar umas aulinhas de nutrição. Olha eu aqui charmosa, carinhosa, esbelta. Prestaste atenção nos meus dentes, alvos como as nuvens do céu. Sou vacinada contra as cáries, mas deixa pra lá, cada um sabe o que é melhor para si. Quem sou eu para intrometer na tua vida. Já tenho muitos problemas para me preocupar, só acho que deverias refletir melhor tuas atitudes. Não se deixe levar pelas opiniões alheias...Já te falei que és uma gracinha? Até parece que estou imitando a Hebe. Sabes aquela da TV que achava todo mundo uma gracinha, dava selinho em todas as pessoas com quem conversava. Não lembras?... Ah! Como sou dispersa, claro que não lembras, nem a conheceste, que eu saiba, não perdes tempo em assistir TV. Quando não estás dormindo, viras a casa pelo ar, não deixas nada no lugar. Me disseram que é um tal de mudar as coisas de um lugar para outro que chega a ser estressante em certos momentos. Sabes o que isto significa? Falta de trabalho, arranja alguma coisa para fazer, menina.Tenho é pena de quem convive contigo. Só mesmo a base de chá, melhor dizendo, quase sempre. Se bem que um chazinho de vez em quando faz bem para a saúde mental. Pensas que eu não sei que tu és meio vegana. De onde tirastes isso amiga?...Desculpe, estou de novo me intrometendo na tua vida. Sei que tu me desculpas, mas tenho de conter um pouco essa língua afiada. Percebeste o meu colar cor de rosa, lindo não? Ganhei dos meus compadres. Não tiro mais do pescoço, onde vou, levo ele comigo, me sinto charmosa. Outro dia, eu e meus compadres saímos a passear pelas ruas do bairro e não é que um vizinho da praça metido a besta veio querer me cortejar? Não contei tempo, dei um safanão no metido que o coitado saiu com o rabo entre as pernas. Foi muito engraçado. Meus compadres ficaram orgulhosos pela minha atitude, me senti uma mulher maravilha, melhor dizendo uma Lady do conto de fadas. Amiga Cora, a conversa está ótima, mas tenho de desligar, pois tem um pedigree na frente do portão a latir para mim. Os meus compadres estão me convidando para passear. E agora atendo ao chamado do pedigree ou o convite dos meus compadres? Oh! Dúvida cruel...

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 12/08/20