Julho

Quero o domingo tranquilo, daqueles de passear pela estrada de terra empoeirada. Uma missa na capelinha na tarde do Dia do Senhor. Passar na beira dos pastos com minha varinha na mão, atravessar mata-burros.

Após a missa, ficar do lado de fora da igreja jogando conversa fora. Com raminho de capim na boca para ensaiar adultices. Vez em quando soltar expressões roçalianas, das que não precisam ter sentido para que signifiquem.

Quando a brisa fria começar a cair, despedir da turma. Chegando em casa, vai ter janta preciosa: comida esquentada do almoço e uma sopa de farinha de milho com salsinha.

“Mãe! Já que minha irmã está grande, posso dormir no quarto de hóspede, na cama grande com colchão de mola? Ela fica com o quarto, para seus suspiros de namoro ao ler algum bilhete perfumado. Você me põe para dormir e me conta de novo aqueles versos engraçados do seu tio nos Zói d’Água, aquele que não sabia rimar!”

Antes, vou ficar um pouco mais na cozinha, ouvindo a conversa dela com o Pai. Eu não quero entender o que estão dizendo, apenas observar a gravidade dos seus semblantes, os olhares de preocupação com o amanhã, igual a esse que tenho hoje. Vou esperar que todos durmam.

Depois da última luz apagada, aguardarei até que me acostume com a escuridão. Verei o vulto da mesa no centro, o fogão de lenha, a geladeira no canto, o banco de madeira.

Por fim, o telhado. Pequenina luz entrando pelas frestas. Lá fora, noite de inverno.

Que não venha geada. E a semana seja boa.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 13/08/2020
Reeditado em 18/01/2023
Código do texto: T7034200
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