Distância viral
A distância entre nós faz parte da rotina. Dia após dia a mesma coisa. Como uma roda girando sempre. O abraço tocante e beijado não há. O toque que abraça o beijo não também. Faces cobertas escondem sorrisos. Digitas emborrachadas acenam com frieza. Trabalhador sem colega, trabalho sem gente. Parentes entre paredes, família de só um. Uma vida não vivida, nem sentida. Sentidos que não sentem. O cheiro sem sabor, paladar sem olfato. O vírus invisível diante dos nossos olhos gera gotículas assassinas.
Muitos ainda acham que é apenas uma gripe comum, paracetamol e chá resolve. Não tem problema fazer – como se ouve dizer por aí – ajuntamento, não dá nada, vamo se encontrá e ir na balada pra beber, matar o vírus por dentro com bastante álcool alcoólico. Ou, como disse um tal governante desgovernado – pra que mascara e pra que vacina.
Voando pelo ar respirado, pra lá e pra cá na tossida do espirro e passado de mão em mão, chega sorrateiro, infectado de infecção. Muito tempo já foi, muito ainda irá. O futuro vai longe do presente sem deixar passado. Memórias de lembranças esquecidas. Esquecimento de pessoas. Indivíduos cada vez mais individuais, compartilham sua individualidade enquanto esperam a injeção vacinada. Falecimentos sepultados em mortes insepultas. Uma população populosa e sozinha, na solidão de suas casas, plugadas numa rede, para pescar outras rotinas rotineiras, dia após dia a mesma coisa, como uma roda girando sempre.
Assim vamos nós. Esse é o novo normal.