FALTA SANIDADE.

Nascido em Jerusalém numa família de esquerda não religiosa, Rabino Steinsaltz começou a sua vida intelectual pela ciência antes de se tornar rabino. Hoje é considerado o maior especialista em leis antigas desde Maimônides, grande pensador da Espanha medieval. Conhecedor de História da Arte, fluente em vários idiomas, é o que se pode definir como homem renascentista, dono de cultura que passa por diferentes áreas do conhecimento.

Disse em entrevista concedida : “O Talmude, como livro, tem uma qualidade enorme de que o mundo precisa hoje mais do que qualquer coisa: sanidade.”

E explica o sentido da manifestação sobre sanidade, sic: Veja, nós vivemos em um mundo no qual tudo é permitido, no qual cada vez mais coisas são permitidas, mas isso não quer dizer que as pessoas sejam cada vez mais felizes ou que elas façam o que devem fazer. De várias maneiras, por vários motivos, em um número imenso de coisas. Então, basicamente, o que o mundo precisa é de mudanças bruscas. Vivemos de altos e baixos. Na vida pessoal, no que se trata de uma nação, na política em geral. Nós mudamos o tempo todo. Isso é uma loucura. E essa loucura não é apenas uma loucura porque não é bom de ver, ela é extremamente perigosa, porque, hoje, como alguém escreveu, é como se colocássemos uma arma nas mãos de um garoto de cinco anos. Nós temos mais poder do que bom senso. Nós temos uma quantidade enorme de poder, então o que precisamos é de sanidade. O Talmude não é um livro que prega a sanidade, mas ele cria sanidade. A sanidade é uma das coisas mais difíceis de definir. É mais fácil definir a loucura. Mas a sanidade é a capacidade de manter coisas diferentes em certo estado de equilíbrio, mas sem deixá-las imutáveis para sempre.”

Essa sanidade está ausente do mundo, das sociedades em seus vários graus, nas corporações, nas pessoas. Como se avista esse cenário? No “cada vez mais coisas são permitidas”; “vivemos de altos e baixos”; “mudamos o tempo todo”, e com toda essa libertação que não liberta, a felicidade é de difícil alcance.

Falta sanidade. Sanidade é regularidade, é pontilhar a conduta sem antinomias, percorrer caminhos lineares, com lógica mínima de pregar e se conduzir como a pregação, professorar e rumar como ensinado.

Toda contramão é insana, afluente que não busque o rio não chega ao mar; simples assim de meditar e entender.

Eu falo de estilo, considera o Rabino, e acresce “Em primeiro lugar, uma das características do Talmude (refere o livro sagrado) que traduzi é que ele se baseia no diálogo, ele se baseia na troca. Ele é diferente dos outros livros. Ele não diz: “Eu vou lhe contar uma coisa”. Ele diz: “Vamos discutir este assunto.” E a discussão pode ser dura mas é uma discussão. Portanto, há sempre um intercâmbio, há sempre um diálogo, há dialética dentro do livro. E a dialética é parte da construção dele. Não é possível ler mais de três linhas do Talmude sem entrar em um pensamento dialético. E nesses escritos, ao ver alguma coisa, você se pergunta: “Qual é a pergunta que devo fazer sobre isto?”

A resposta estou em que deve ser sempre esta que nos passa o pensador filósofo/religioso: " Mas a sanidade é a capacidade de manter coisas diferentes em certo estado de equilíbrio"; igual a ter sanidade.

Ninguém estrutura, reestrutura, educa ou tenta reeducar, modifica algo para alguma coisa melhor sem diálogo, discussão, dialética, encontro convergente no concerto das ideias com fim determinado. É dessa sanidade que precisam todos e nos fala o sábio.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 12/08/2020
Reeditado em 12/08/2020
Código do texto: T7033796
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