Cheiro de Favela
Hoje ao ouvir essa frase "Cheiro de Favela" me perguntei insistivamente, como é o cheiro da favela ?
E enquanto eu ia pensando, ia lembrando dos rostos dos muitos favelados que me cercam.
Via a imagem dos meus pais, e lembrava de tudo que eles passaram pra criar os 6 filhos.
Via o rosto dos filhos, dos deles, do meu, dos filhos dos meus irmãos e irmãs de sangue e de favela.
Fui lembrando dos amigos, dos que perderam a vida, dos que lutaram pra sobreviver contra todas as probabilidades.
Dos amigos que venceram, de tantos que nem moram mais na favela. Dos que foram e dos que assim como eu voltaram a morar nela.
Lembrei também dos rostos dos desconhecidos, que todos os dias se empilham dentro dos ônibus que nos levam pra periferia. Nos trazendo dos grande centros, onde fazemos "a economia (da burguesia) girar"
Lembrei dos dias da infância, das noites da adolescência, as madrugadas de esperança e desesperança.
Lembrei dos sonhos que idealizei enquanto olhava as casinhas com os blocos despintados com cores de terra.
Lembrei dos sonhos dos jovens com quem trabalhei, da inocência das crianças que aqui vivem e das que viveram. Lembrei dos medos e de como sempre havia um sorriso, um colo, um abrigo em uma das casas, ou dos barracos, que nos lembrava, que não podíamos ser fracos.
Lembrei das comemorações, de como rapidamente nos uníamos, pra gargalhar, pra brincar, beber ou brigar.
E por ai fui, trilhando um pensamento infinito de 25 anos de vida na favela.
Lembrei do orgulho de viver aqui, lembrei da vergonha que me fizeram sentir por ser moradora dela.
Lembrei de como ressignifiquei esse lugar que para muitos é de selvageria, que medo eles teriam de aqui estar ou passar.
Acho que encontrei!
O cheiro que ressalta a favela é de luta, força e afeto.