Ren e Stimpy

"The Ren & Stimpy Show", talvez o desenho animado de maior sucesso da Nickelodeon (americana) na primeira metade dos anos 1990, vai ganhar "reboot" para adultos, dessa vez produzido pelo canal Comedy Central.

O criador da animação original, John Kricfalusi, que foi acusado de assédio e abuso sexual de menores por duas mulheres, não será envolvido na nova criação.

Em 2003, houve a produção e transmissão de um spin-off, também para adultos, intitulado "Ren & Stimpy 'Adult Party Cartoon'", que foi um fracasso de crítica e de público. Portanto, não é a primeira vez que tentam uma reimaginação não recomendável para crianças.

O enredo, tanto do desenho original quanto do spin-off, foca em Ren, um cão chihuahua psicótico, e Stimpy, um gato estúpido, que se envolvem em bizarras aventuras. A expressão "aventuras" é de uso muito comum para elaborar sinopses de desenhos animados, mas no caso de "Ren e Stimpy", o adjetivo "bizarras" tem a obrigação de vir junto. O desenho me impactou quando criança (eu assisti, pela primeira vez, anos depois da transmissão do último episódio), porque era diferente do padrão visto em outras produções do gênero que passavam na TV. Quando foi ao ar, em 11 de agosto de 1991, "Ren e Stimpy" tinha a pretensão de atrair crianças - era um dos "nicktoons", animações originais do canal infantil Nickelodeon.

O seu caráter inovador (e transgressor), no entanto, está justamente no fato de conter elementos que formavam um todo não enquadrável nas convenções que referenciavam um desenho animado para crianças. Humor negro, insinuações sexuais, cenas chocantes e outras coisas do tipo que hoje se vê, por exemplo, em "Rick e Morty", estavam presentes. Alguns podem pensar que estes detalhes deveriam escandalizar o público e diminuir a audiência, porém ocorreu o inverso. Entre 1991-1992, "Ren e Stimpy" foi o programa de TV a cabo mais popular dos EUA, segundo uma reportagem do The Independent.

Mas e hoje? Será que teria o mesmo sucesso e impacto?

"Ren e Stimpy" é um desenho politicamente incorreto, há muitas cenas que hoje certamente gerariam repúdios e "cancelamentos". Um reboot, se for mesmo produzido, terá scripts cautelosos. E evidente que não causará impacto como causou nos anos 1990. Se for um desenho para adultos, o que poderá oferecer de inovador? O que o distinguirá de outras animações televisivas adultas? Mas não quer dizer que não será bom.

Por outro lado, numa era em que as séries animadas para crianças estão parecendo ficar cada vez mais infantis, qual seria a reação se houvesse uma proposta de criar um novo "Ren e Stimpy", só que para um público não-adulto? E se a produção se concretizasse, como ficaria? Se renderia às convenções atuais e, por conseguinte, arruinaria a essência do desenho? Ou seria novamente transgressor?