O apetite!
O tempo parece suspenso, pausado no olhar, aquele nosso primeiro olhar. Pareceu uma fatia generosa de bolo felpudo molhado quando toca o paladar e provoca um doce arrepio gelado.
No bocado de cada minuto, digeria-se a complexidade que os olhos transmitiam, mesmo de longe, sendo processados na memória, catalogado em algo novo para alimentar o coração, já tão desnutrido de amor.
Ah, mas o mesmo tempo fez os doces calafrios tornarem-se apenas gelados, esquecidos em um freezer de sentimentos que a covardia teima em manter assim. Medo! Não o medo de ser parte da fatia que é servida e apreciada. Não, o medo de ser aquela parte que cai no chão por descuido e que é pisoteada pelos pés festeiros, despercebidamente.
Depois de um dia em dieta, sob à luz da razão, tento adormecer. Não consigo. Ouço roncos no estômago emocional, sinto o cheiro da saudade que passeia nos ares do tempo.
Subitamente, levanto! Abro a geladeira e vejo que ainda tem um bolo esquecido lá na prateleira dos meus sonhos. Nem penso na dieta. Abocanho a fatia, toda feliz! Explosão de sentimentos. É que nesse momento, o medo foi tragado pela vontade de viver e eu acabo de provar o melhor sabor do mundo.