O dia começou bem: perdi a hora, leite derramou e o pão na torradeira queimou. Murphy gosta de aparições e tem uma espécie de atração por mim. O “vizinho do bem” bateu as botas. Ele era um tipo excêntrico movido à álcool. No interior, cachaça e alambique moram juntos. Vez ou outra ganho uma pinga com mel, coco e gengibre. Querido por todos, tinha o apelido de Paciência, enchia a cara e discursava sobre biologia, professor era, antes de engordar os números do INSS por invalidez: ganhou parafusos. Enfim, partiu velório. Saída estratégica pela garagem, se não fosse o fusca azul e seu motorista: um deslize e a tinta carimbou meu “white Chronos”: ah, se falasse palavrões... Paralelepípedo! Deu polícia, é claro: ele estava alterado por causa do álcool. Respirei fundo entoando um mantra, mas perdi a despedida do Paciência. Disseram que foi um espetáculo: os amigos ofertaram garrafas de pinga em forma de coroa e tiraram self. Pode isso, produção?. No retorno pra casa: portão da garagem estragado e a água? Acabou! Bomba relógio diante da televisão, telefone toca e a vendedora empurra produtos de uma farmácia. Dei uma de louca e comecei a contar histórias irreais de clientes que fizeram “macumba” e a moça desligou. Fui pegar um chocolate, que dia! Acabou? Virei uma leoa. Gritei, bati gavetas e chorei. O socorro veio: - Quer que vá comprar pra você? Vai te acalmar dessa crise nervosa... - Crise nervosa? Por acaso você é psicanalista? Já me viu ansiosa? Comendo com olhos? Em pânico ou numa mudança de comportamento brusca? Ele olhou sorrindo e fez sinal positivo! Caí na risada:- Vamos pedir uma pizza? Tomar um vinho? Total flex? Ele não entendeu nada...