AS CRÔNICAS DO POMBO - Pandemia e outros coisos

“Conhece-te a ti mesmo, e então verás quão chato és”

Sócrates... do Corinthians.

Desde que iniciou a pandemia do COVID-19, eu, como frequentador assíduo por vinte e quatro horas do site Recanto das Letras, (pelo amor de Deus, alguém me dá um emprego!), vi que inúmeros textos sobre a doença e seus efeitos foram postados e, longe de criticar a criatividade alheia, mas a quantidade e enorme variedade de gêneros textuais e estilos que se escreviam era (e ainda é, já que a pandemia não acabou) sobretudo, interessante:

Acróstico: C O R O N A

Poesia: Quarentena

Crônicas: Diário da quarentena

Sonetos: Pandemia em decassílabo

Artigo: Os efeitos da pandemia e como trocar de presidente

Artigo: Os efeitos da pandemia e trocar nada. O Lula tá preso, babaca! PT roubou a gente por anos e tu não fala nada!

Artigo: Os efeitos da vai Bolsominion, fascista! Quero ver se tu pega essa gripezinha

Artigo: Criação de pinguins no Piauí durante a quarentena: é possível?

E por aí vai. Até meu amigo e companheiro de escrita BATISTA ANDRADE "sonetou" com um texto chamado A VIDA ISOLADA.

A parte que mais chamou atenção foram os contos, e sabendo que o estilo CONTO DE TERROR tem maior procura e visibilidade nessa plataforma, aliado ao fato de que também escrevo (mal) e procuro por textos desse tipo, tivemos alguns títulos curiosos:

Conto: Caos mundial

Conto: Zumbificação

Conto: Pandemia mortal

Conto: O Vírus Letal

Conto: A primeira onda da quarentena: diário de um viajante do tempo em 2099

Bem animador.

E antes que me concedam gentilmente a alcunha de escarnecedor ou de alguém que despreza os textos alheios, CALMA! Todos esses eu li, gostei (recomendo dois contos de outro amigo meu CRISTIAN CANTO sobre o tema) e digo o porquê.

Durante esse momento, considerado um dos mais tristes do século XXI, onde o número de mortos é avassalador (e não falemos de política, nem lado A ou B), e onde tantas outras coisas aconteceram pelo Brasil e pelo mundo, vemos a exímia capacidade do nosso povo em transformar situações difíceis em ARTE. É isso que todos esses textos representam: o poder da criatividade em períodos difíceis da nossa época. Confesso que até queria compor alguns textos, e invejei muitos deles (inclusive todos os supracitados)... Mas, por dois motivos óbvios não consegui. O primeiro foi minha completa inaptidão. O segundo foi que estava preocupado com outra coisa:

COMO QUE RAIOS EU VOU COMPLETAR MEUS ESTÁGIOS DE FORMANDO EM LETRAS – PORTUGUÊS E INGLÊS COM A FACULDADE FECHADA E COMIGO SÓ QUERENDO SABER DE DORMIR, YOUTUBE E EM BAIXAR E EXCLUIR JOGUINHOS DE CELULAR?

Abrindo cada vez mais meu coração para vocês, sou estudante de letras e estou no quinto semestre, com uma galera super gente boa e inteligente que se divide entre quarto semestre e a mesma turma que eu. Todos ali são dedicados, esforçados e super estudiosos. Exceto eu e mais alguns espelhos.

Nesse primeiro semestre de 2020, iniciou nosso período de estágio supervisionado e tínhamos horas para cumprir. Devido à pandemia, as atividades do mesmo se tornaram remotas e online, podendo ser realizadas em casa e cumpridas com maior facilidade.

Pois é.

É aqui que se inicia uma linda história de amor entre um jovem (eu) de vinte e sete anos e sua devoção pela PROCASTINAÇÃO.

Como falar dessa bela e encantadora palavra? Ah! Ela simplesmente é adorável, como um sonífero para controladores de voo ou relaxante muscular intenso para cirurgiões em plena operação de um rim. É como deslizar de carrinho de rolimã em direção a um poste. A viagem é sensacional, convenhamos. O ruim é só o resultado.

Sensualmente, como diz o pastor Josemar Bessa, a procrastinação é uma ladra perfeita, onde num sussurro doce ela rouba muita coisa sua, inclusive, seu hoje. Fernando Pessoa (de novo), dizia em seu heterônimo Ricardo Reis que “SEU HOJE É VOCÊ. ACONTEÇA”. Todavia, a ladra vem devagarzinho com vestidos de cetim e diz:

“Depois...”

“Amanhã...”

“Está muito cedo... vai dar tempo”

NÃO VAI, SEU IDIOTA!

Eu sou a prova viva disso.

A verdade é que o fato de estar em casa facilita tanto (para quem já estava de saco cheio) a preguiça que acabei por ficar o dobro desleixado. Salomão disse "Vai ter com a formiga, ó preguiçoso". O problema é que nem isso eu fiz. Se eu ficasse de boca aberta é bem provável que elas viriam até mim.

Conforme o tempo passa, a sensação de conforto só aumenta quando se procastina, porém isso é uma falsa segurança que seu cérebro (traíra) dá quando você faz por onde encontrar "sombra e água fresca" por praticamente vinte e quatro horas por dia. Seu excesso de dopamina e endorfina produzidos pelo repouso podem construir umas correntes mais longas e difíceis de quebrar quanto a do Shun, de Andrômeda ou aquelas que, frequentemente, colocamos na rede para o tio gordo deitar.

Brincadeira. O Shun já teve a corrente quebrada.

Por isso, para esse relato não parecer um artigo médico feito por quem pensa que dipirona cura todas as enfermidades do mundo, ou um texto motivacional escrito por quem ainda, por pura preguiça, nem dobrou os lençóis da cama que dorme, digo que passei março, abril, maio e junho sem nem me importar com as horas do estágio remoto para cumprir e seu prazo de entrega (que, aliás, esqueci na época em questão).

Estudiosos mencionam que a história original dos três porquinhos contava com um quarto. Sim, eram quatro porquinhos. No entanto, segundo pesquisas da Universidade de Ninguém Vai Pesquisar Mesmo, pelo professor e doutor decano SÓSEIKI FOIA CIM, que havia quatro porquinhos na mente do criador do conto. O primeiro faria uma casa de palha; o segundo uma de madeira e o terceiro uma de tijolos. Os estudos do professor dizem que o quarto porquinho ficou de fora porque sua casa ainda estava por fazer e ele sequer havia comprado os materiais para construção até o dia da publicação da história.

Um verdadeiro serviço de porco, não acha?

O que isso tem a ver comigo?

Fica para a próxima...

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 11/08/2020
Reeditado em 11/08/2020
Código do texto: T7032558
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