O Xadrez na minha vida

Antes que alguém pense que vou falar de xadrez, “Xilindró”, ou roupas de tecido xadrez bom, é melhor você mudar de crônica. Vou falar um pouco do jogo xadrez, e de como ele fez parte de boa parte da minha vida – e talvez da sua também... e talvez porque ele faz falta. A primeira vez que tive contato com o jogo foi, senão me engano, na saída do primário. Eu sempre joguei damas com minha irmã – principalmente numa época conturbada na família – mas confesso que gostava muito, além de sentir uma certa falta de alguma coisa no jogo. Lembro de uma vez, numa barbearia com meu velho, de ver um tabuleiro de damas e da vontade louca que eu tinha de jogar com alguém que estivesse na fila da espera.

Pois bem, saída do primário, eu comecei a “saber” que xadrez existia, não lembro direito como... mas lembro muito bem de no mesmo dia que eu vi pela primeira vez um jogo de xadrez, in loco, dentro de uma loja que vendia artigos exóticos, dia que também comprei meu primeiro livro de literatura – o primeiro de muito poucos, porque sempre fui pão duro e sempre preferi ler em formato digital. Então... eu fiquei com cara de bobo: era um Xadrez todo em acrílico e translúcido, parecendo vidro, só que não era. Pensando bem ele era uma coisa linda demais. E pensando melhor, sem duvida, ele ainda é tão caro hoje como era caro naquela época. Ainda guardo um sonho de ter um jogo de xadrez bonito com aquele...

Daí com o tempo comprei um mais baratinho que jogava sempre com um amigo. Também passei a jogar online – por acaso uma vez, ainda nessa época, tive umas vinte partidas online da qual se eu ganhei uma, amem. E passado mais um tempo comecei a jogar xadrez com um vizinho – o dele era todo de madeira, muito bonito – e nossas partidas eram sempre interessantes alternando vitorias e derrotas. Sem contar também, já no ensino médio, a professora de português mais bonita que eu já vi na minha vida, a qual eu e uma amiga éramos apaixonados, Tatiana o nome... como ela era linda, toda branquinha, cabelo liso, meio baixinha, de óculos, falava com jeitão sério, mas ao mesmo tempo meiga sem maltratar os alunos. E era daquelas mulheres gostosas assim, com corpão, que deixam os alunos muito interessados quando ela está escrevendo no quadro, sabe como é?

Tatiana, vendo que eu e um amigo, ambos no fundão, conversávamos muito sobre partidas e jogadas de xadrez, nos presentou com um “mini” xadrez, com as peças pequeninhas, coisa linda, que a gente começou a jogar todo dia durante as aulas dela... o que deixava ela maluca gritando com os únicos alunos que apesar de estarem no fundão, estavam quietos e tirando boas notas de português. Um belo dia resolvemos parar de jogar na aula dela, porque ela falou de um jeito tão lindinho, mas com muito ódio – sabe quando uma mulher está puta mas você não consegue achar que ela está feia, ainda assim? Então, nesse dia que ela praticamente implorou nos ameaçando tirar as notas, eu acho, que com sorriso no rosto dissemos, “tá bom professora, a gente para”.

Daí em diante as duas lembranças que tenho com xadrez já são na “adultisse jovem”, como os médicos pediatras que andam se sentindo com vergonha de atender adolescentes nos consultórios resolveram nos apelidar. Resolvi fazer um curso técnico e um pré-vestibular, mesmo saindo de uma doença grave. No fim, fiquei só no pré-vestibular (que acabei logrando passar), quando conheci uma moreninha baixinha, toda lindinha, que vivia perguntando coisas inteligentes durante as aulas – coisas que alguns "incautos" diziam absurdas, mas que quem estuda sabe que não eram. Chamavam ela de maluquinha... fui conhecer.

Descobri durante as conversas que ela jogava xadrez entre as aulas. A baixinha bem assim... aos meus olhos, bem linda na época e cheia de formosura – vocês entenderam – jogava bem. Mas bem demais, meu Deus. Meu vizinho não teria a menor chance em uma partida contra ela. Eu ali, interessado tanto nela quanto nas partidas, fiquei umas duas semanas só vendo ela jogar para ver se aprendia alguma coisa, como também para me aproximar. Foi então que lhe fiz uma aposta, “se eu ganhar uma partida você me dá um beijo na boca”. Jogamos àquela tarde durante um calor e um tempo abafado, num jogo em que eu estava sempre sorrindo por fora só que por dentro bem aflito com uma vontade absurda de ganhar. Obviamente que eu perdi. Mas ficamos juntos dali até à noite quando dei tchau para ela indo embora.

Acabamos namorando e até namorando sério anos mais tarde... quando também depois em outra partida antes de... “namorarmos”, ela resolveu deixar que pela primeira vez desde que nos conhecemos, eu ganhasse um jogo contra ela. Ganhei no fim o coração dela também. Mas isso já tem anos e não o possuo mais comigo até porque, na vida, uma pessoa só tem a outra até o tempo que lhe for permitido. Igualzinho quando ela deixou que eu ganhasse aquela partida de xadrez. Agora sempre fico naquela expectativa gostosa de saber, quando será a próxima que vou ganhar, ou quando alguma moça vai deixar que eu ganhe...