SOBERBA
 
Ajoelhou-se, olhando no espelho, e no pano de fundo, a sala toda destruída com suas próprias mãos. Gritou como uma louca desvairada. Ouviu uma batidinha na parede do apartamento ao lado – "Esta tudo bem ai?" Tampou os ouvidos em mensagem muda  de "cuide de sua vida e deixe-me em paz!".
A visão da sala parecia aqueles filmes de guerra, sem sobreviventes,  sem ao menos enxergar um lencinho branco acenando como um pedido de paz.  Havia visto essa cena uma vez num filme, e achou uma tremenda catarse, aquela insanidade momentânea de quebrar todas as lembranças que ainda falavam por si. A sala agora, muda, fazia sinais frenéticos em libras que ela fingia não entender.
No chão frio, em posição fetal, tipo drama de filme mexicano,  numa estupida carência, tentava adormecer aquela dor que a destruía por dentro.
Num ímpeto de coragem, arrastou-se  alcançando o maço de cigarros jogado entre aquele caos. Não sabia se pegava o celular e pedia socorro desse comportamento suicida, mas deu uma polida em seu orgulho, e resolveu vencer por si mesma. 
Levantou-se ajeitando o vestido, e pescou com os pés as sandálias douradas, tendo o cuidado de tirar todos caquinhos.

E cegando-se com a chama do isqueiro, (que mais parecia o incêndio de Chicago),  em pose absoluta – tragou o futuro.
Soberba!


Tema: Crise de Raiva
 
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 11/08/2020
Reeditado em 14/07/2021
Código do texto: T7032431
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.