À ESSÊNCIA DA COISA, COM AMOR.

O que nos faz ser quem somos? Alto lá, caros leitores, não vou filosofar! Porém, se tirassem cada pedacinho de nós, dedos, mãos, pés, braços ou, até mesmo, nossos principais sentidos, o que faz você ser quem é? Peço licença para me aprofundar um pouco mais. Imaginem uma pessoa em coma. Ela ainda está ali, com sua mente em estado de inatividade?

Por que tirei todas essas questões vãs de minha mente divagante e inquieta? Vou contar para vocês.

A dois meses decidi que iria comprar uma nova bike, daqueles modelos de triatleta, tipo top de linha. A minha bicicleta antiga seria vendida para ajudar nesse pequeno sonho de consumo, mas quando já estava postando várias fotos dela na internet para promover sua compra, senti um aperto no coração.

Para quem não sabe, minha velha bike até nome tem. Passei por momentos inesquecíveis junto de minha Andrômeda. Ela conheceu amores, testemunhou dores e até minhas mais profundas reflexões. Basta eu sentar-me em seu selim e sentir o vento no rosto. Pronto. É momento de entrarmos em estado de graça.

Depois de muito pensar, decidi trocar suas velhas peças e pneus pelo o que há de mais avançado no mercado. Quando achava que tudo estava resolvido, veio minha sobrinha de sete anos, aquela Sócrates anã, e desferiu um questionamento que me deixou atônita:

– Mas tia, se você trocar os pedacinhos dela, como você vai saber que ainda é a Andrômeda?

– Ora, Laís, pelo quadro da bike que fica! – Julgava tê-la convencido, sem convencer a mim mesma.

Fui até à garagem. Encarei minha bike, seu passador retribui-me o olhar; peguei seu guidão com carinho e sussurrei para ela, encostando minha boca próximo ao manete de freios:

“O que te faz ser minha Andrômeda, é meu amor por você”.

Voltando aos questionamentos iniciais... O que nos faz ser quem somos é o sentido que temos na vida de quem cativamos. As emoções que provocamos, a história que escrevemos e, principalmente, o quanto nos dedicamos a quem amamos. Para mim, essa é a essência da nossa humanidade.

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 10/08/2020
Reeditado em 10/08/2020
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