PESCARIA COM MEU PAI.

A vara de pescar era de bambu, tamanho médio, o modo como prepara-la para a pescaria, lembro-me como se fosse hoje. Primeiro era necessário escolher uma vara de bambu adequada para o tipo de pescaria que se pretendia, se fosse para pescar peixes pequenos escolhia-se uma vara bem

pequena, fina, flexível, se fosse pescar peixes de médio porte o ideal seria uma um pouco maior, e para os peixes maiores escolhia-se as maiores varas possíveis. Geralmente o local onde buscávamos esses tipos de material era longe de onde morávamos, tínhamos que andar alguns quilômetros até chegar ao "bambuzal" onde as varas eram retiradas, apesar da distância, fazíamos com todo o prazer, afinal, amávamos pescaria, e a distância

valia a pena, sempre conseguíamos as melhores varas de pesca, de todos os tamanhos, uma melhor que a outra, o meu pai era quem as escolhia e as retirava.

Meu pai e eu adorávamos pescar, não éramos os tipos de pescadores profissionais, de pescar grandes quantidades ou enormes peixes, com equipamentos modernos e tudo mais. Éramos apenas pescadores caipiras com varinhas de bambu nas mãos e potes de minhocas, sentávamos na beira do riacho, e lá

ficávamos longas horas.

Gostávamos de pescar no riacho que passava no fundo da nossa casa ─ Riacho esse que chamávamos de "ribeirão", mas, nessa crônica vou chama-lo de riacho ─ com suas águas límpidas e silenciosas, procurávamos um leito que estivesse limpo, e ali começávamos a pescaria, ou melhor, uma romaria à beira da água, nunca que ficávamos estacionados no mesmo local, no máximo era cinco minutos, caso nenhum peixe mordesse a isca, então íamos para outro ponto um pouco mais adiante, às vezes começava bem, pescávamos um ou outro

peixe, sempre íamos um pouco mais adiante, sempre assim, pescávamos aos pouquinhos, de um em um, de dois em dois, aqui e acolá.

Lembro-me que em uma dessas pescarias, depois de uma grande chuva, o riacho ficou com a água turva e um pouco acima do seu leito normal, situação muito propícia a pescaria de

'bagres', que por sinal era o nosso tipo de peixe preferido, peixe geralmente de grande porte, de poucos espinhos e pele lisa, peixe abundante sempre após as chuvas, nestas situações levávamos varas maiores, os bagres são grandes e puxam com força, se a vara de pescar fosse fraca ou não estivesse com a linha adequada, o peixe a quebrava no primeiro puxão.

Nós sempre estávamos preparados, nunca perdemos um peixe, começávamos a pescar a partir do fundo do nosso quintal, e aos poucos, sem que percebêssemos, descíamos, pescando um

pouquinho aqui, um pouquinho ali, descíamos um pouco mais, não tínhamos paciência de ficar em um mesmo lugar, era no máximo cinco minutos como já mencionado anteriormente, dali a pouco estávamos em outro ponto pescando.

Ao final da pescaria tínhamos caminhado vários quilômetro beirando o riacho; eu e meu pai levávamos um embornal de pano pendurado de lado, era onde colocávamos os peixes; para quem não sabe o que é um embornal ─ é um saco

pequeno, feito de panos velhos ─ O meu embornal ficava lotado, meu pai era quem sempre limpava os peixes quando chegávamos em casa, o bagre não é escamoso, tem poucos espinhos, fácil de limpar, depois de limpos a minha mãe os lambuzava no fubá, e os fritava na velha frigideira que era da minha avó, toda torta, já escurecida, cabo adaptado, porém, era essa a frigideira sempre usada para todos os peixes que pescávamos, como eles eram grandes, minha mãe os cortava em poças, ficava uma beleza, eu e meus irmãos comíamos de lambuzar os beiços. O bagre tem uma carne branquinha, suculenta.

A pescaria com meu pai aconteciam sempre nos fins de semana, geralmente aos domingos, mas eu gostava de pescar quase todos os dias, eu sempre estava na beira do riacho, na maioria das vezes sozinho, eu e os meus pensamentos,

ouvindo apenas o som das correntezas, o barulho da água entre as pedras, o som dos pássaros cantando, nada mais ao redor, o resto era um completo silêncio que preenchia a alma, acalmava o coração. Sinto saudades desse tempo, vivemos em meio a uma correria frenética nas grandes cidades, e nos perdemos aos poucos sem encontramos tempo para descanso em nosso dia a dia, às vezes é preciso o silêncio da natureza para nos reencontrar novamente, nos fatigar em nossos afazeres,

trabalho excessivo, problemas que se avolumam, pandemia que nunca acaba, tudo acomodado dentro da mente, pesando na alma, sempre me recordo com saudades as lembranças daquelas pescarias tranquilas de outrora.

Nesse dia dos pais, relembrar desses momentos de ouro que passei com meu pai, que, sem nenhuma dúvida, é e sempre será o meu herói. Existem vários heróis na tela do cinema, mas, o maior deles se chama Antônio, meu pai, meu herói, meu guerreiro.

Te amo pai. Saudades das nossas pescarias.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 09/08/2020
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