AVES DE ARRIBAÇÃO
Prof. Antônio de Oliveira
Nossos filhos nos surpreendem. Viajar! Viajar! Se libertos para voar, como “ágeis andorinhas / Consultam-se na beira dos telhados, / E inquietas conversam, perscrutando / Os pardos horizontes carregados...“ Filhos são como Aves de Arribação nesses versos de Castro Alves. E nós, pais: – Cuidado, meus filhos!
O pássaro voa usando as próprias asas. Fazendo piruetas nas alturas, arroja-se ao vento, à chuva, ao sol; ao frio e ao calor. Amanhece cantando bem-te-vi e outros cantares. A mim me sensibiliza essa variante de bom-dia: bem-te-vi! O pássaro conquista espaços; voa, aninha-se, convive com a mãe natureza.
Qualquer que seja a nossa forma de amar, os humanos temos a tendência a querer governar o coração alheio. Manipulando sentimentos; direcionando o pensamento, ideologicamente. Na verdade, amar é, sobretudo, admitir espaço aberto para voar. Voar faz desabrochar o potencial que está dentro de nós e dentro de outrem, principalmente.A quem basta apenas ser encorajado.
Ser pai é enxergar além do gozo momentâneo de tornar-se pai. Dia dos Pais. Dia de repensar essa dimensão, essa imensidade, a quintessência da paternidade. Utopia pedagógica? Adestrar é mais fácil, apesar de todo o esforço exigido, de toda a disciplina requerida. Os espartanos adestravam os cidadãos para a vitória. O atleta se adestra para a competição, para a olimpíada. Treina o corpo condicionando-lhe o espírito. Educar verdadeiramente talvez seja o inverso: desenvolver a mente e o coração, condicionando-lhes o corpo. Nos idosos, então, educar-se é, se possível, reinventar-se.
Lembra Affonso Romano de Sant’Anna: “O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos, e que não pode morrer conosco. Por essa razão avós são tão desmensurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.”
Talvez seja necessário fazer alguma coisa a mais antes que cheguem os netos.E não é que já chegaram?