Eu e o jogo de xadrez

Aprendi a jogar xadrez na escola quando tinha doze anos. Costumava jogar com os amigos da escola, ficávamos depois da aula jogando xadrez. Eu amava. Me lembro do primeiro dia que vi o professor de educação física de outra turma ensinando xadrez para os alunos dele. Não me lembro quantos anos aquele professor tinha, lembro que era magro, de cabelos grisalhos e muito bonito. Um dia ouvi dizer que ele ensinava alunos de outras turmas a jogar também, então me aproximei e comecei a aprender com ele.

Nossa aula terminava ao meio dia, então corríamos até o professor e pedíamos as peças de xadrez para jogar. Certo dia uma "amiga" nem tão amiga, fez uma fofoca pro meu pai, disse que acabava a aula e eu ficava jogando xadrez com o Joãozinho, meu melhor amigo. Meu pai então me proibiu de ficar depois da escola jogando xadrez e também me proibiu de falar com esse meu amigo. Ele colocou essa "amiga" pra me vigiar. Que raiva tenho dela até hoje. Por culpa dela perdi momentos prazerosos da minha vida. Perdi o que eu gostava de fazer jogar xadrez com meus amigos.

Anos depois conheci um menino no ônibus quando ia fazer uma prova de vestibular, nos tornamos amigos e ganhei dele um jogo de xadrez que tenho até hoje.

Hoje resolvi retirar o velho jogo do armário e me sentei na mesa da cozinha para ensinar meu pai a jogar. Enquanto ensinava todas essas lembranças se misturaram na minha mente. Aquela mágoa por ter perdido um tempo prazeroso dos meus doze anos ainda está aqui, mas tentei não demonstrar nada. A convivência com meu pai nem sempre é fácil.

Ele achou difícil o jogo de xadrez, não quis mais aprender, embora eu tenha sido tão paciente em explicar.

Por fim, fiquei sozinha, eu e meu jogo de xadrez com quem não tenho com quem jogar.