Gumercino olhou para a lagoa serena sobre a brisa matutina que varria aquela grota onde ele construíra sua história. A infância de brincadeiras inocentes, de birras xexelentas e das coças da mãe em tardes nervosas. Veio a adolescência de rebeldia e vontade de fugir, ganhar o mundo, deixando para trás todo encanto acumulado no seu peito. Passou depressa. A juventude foi de trabalho duro na lavra da terra. Passeios e namoricos. Foi em um desses passeios que conquistou o coração de Ana. Ela era moça de história tão igual a sua. Não tinham razão para ficar demorando a se casarem. Era marcar data, comprar enxoval e mobília e fazer acontecer. Fizeram. Dez meses depois um filho, mais um depois de dois anos, e mais dois agora, gêmeos. Todos são meninos. Ana acordara para fazer o café. Ele preferiu ir até o milharal, dar umas enxadadas antes do desjejum. Foi o que fez. Pegou sua preferida e começou a capina devagar. O dia seria longo. Daria conta. No meio da fileira deparou-se com uma coisa estranha. Uma peça que não se parecia com nada que ele conhecesse. Não era peça do trator que tinha arado a terra para ele, nem qualquer ferramenta que ele conhecesse. Pegou a coisa estranha e trouxe para a tulha. Guardaria lá até ter tempo de observá-la melhor. Durante a noite não tinha escutado nada. Seu cachorro não latira. Quem poderia ter deixado tal objeto ali? Passou o dia inteiro curioso. Não conseguia pegar no sono. Foi aí que se lembrou da lagoa, pela manhã ela parecia mais cheia que de costume. No dia seguinte pegaria o bote e um bambu comprido. Iria vasculhar canto a canto para ver se havia alguma coisa no seu fundo. Não deu tempo. Percebeu uma luminosidade estranha sobre sua casa. Olhou pela fresta da janela. Coisas estranhas tiravam do fundo da lagoa algo redondo, maior que sua casa, puxado por outros três que estavam suspensos. Ele não sabia como contar esse fato para ninguém. Por isso guardou essa história em um silêncio sideral. Ana passou a ficar cismada com o homem todo dia olhando para o céu.