ÒMERTÁ. BRASIL, UMA NOVA ITÁLIA, MAS SEM LEI PENAL SEVERA.

A “ÒMERTA”, vocábulo italiano substantivo feminino que significa “a solidariedade dos delinquentes”, SE ROMPIDA, seria a única possibilidade, COMO OCORREU NO BRASIL, de desnudar e expor todos os partícipes desse enorme sistema criminoso, revelado, criado na forma da denúncia do Ministério Público Federal ocorrida em recenticidade. Isso está se renovando em esferas altas e simbiose tentada ser perfeita, que se vê, mas que se estiolará.

Quem é refém da organização sistêmica, de todo o engenho, observa a “`omerta”. A quebra do código de silêncio”, na Itália, tem violento desfecho; “quem não silencia é silenciado”.

Nessas sociedades irmanadas na iliceidade, como se dá com o tráfico, todos continuam às expensas do esquema. Veja-se o controle da circulação das drogas e da administração do negócio, feitos do interior do cárcere no Brasil, pelos cabeças já segregados no sistema prisional.

Na Itália, a “`OMERTA” quebrada, deu ensejo à desarticulação da Máfia, com seu parcial esvaziamento na década de noventa. BUSCHETA, mafioso refugiado no Brasil, foi um dos que colaborou. Após a “delação premiada”, adotada no Brasil, fez várias cirurgias plásticas e, como um nômade, se escondeu nas esquinas do mundo.

A Máfia é um Estado dentro de outro. Matou na Itália destacadas autoridades, entre elas um general e inúmeros magistrados poderosos. GIOVANNI FALCONE e PAOLO BORSELLINO, verdadeiros mártires para o povo italiano, combateram-na sabendo que seriam assassinados. Não arredaram de seus ideais. A Itália os reverencia sempre. Minhas raízes estão lá. Conheço detalhadamente essa história. Em Palermo, ainda hoje, os magistrados vivem reclusos; não têm vida social. Não podem se expor. Privam somente da amizade daqueles muito próximos. Os policiais são os caçados, não os caçadores. Por vezes andam encapuçados para não serem identificados.

Anos atrás foi preso nas montanhas de Corleone, na Sicília, BERNARDO PROVENZANO, de setenta e três anos, foragido datavam quarenta e três anos,falecido no cárcere ,condenado à revelia em dez sentenças com a pena de prisão perpétua por assassinatos, inclusive dos Juízes Falcone e Borsellino, em 1992. Provenzano acumulou uma fortuna incalculável. Somente nos últimos dez anos antes de ser preso, a polícia lhe confiscou seis bilhões de euros, ou seja , aproximadamente dezoito bilhões de reais em bens.

Era o lendário “FANTASMA DE CORLEONE”; não tinha rosto. Foi preso por Cortese, policial que lhe movia implacável caçada. Afirmava que sua maior dificuldade era a “`omerta”. Quando em frente ao “CAPO DI TUTTI CAPI”, o chefe de todos os chefes, Cortese sentiu que era aquele rosto que procurava, datavam sete anos, tendo exclusivamente uma foto sua de 1963, atualizada por computador. Provenzano resistiu como era de se esperar , lutando com Cortese, também idoso, este de arma em punho. Em princípio o mafioso ficou surpreso; vencido, adotou um olhar místico, relata o policial Cortese. Provenzano ainda disse: o senhor está cometendo um enorme erro.

Ao partir para o presídio em helicóptero, parabenizou Cortese pelo “bom trabalho”. Provenzano , como situa Attilio Bolzoni, um especialista na Máfia, “era uma instituição, não apenas um chefão; ele ficaria insultado se chamado de fugitivo, pois ficou livre por quarenta e três anos. Quem consegue se livrar por tanto tempo das barras da lei, não é um fugitivo. Ele era como um ministro de governo em Estado paralelo.”.

Preso com roupas simples, um provecto senhor, Provenzano era temido por sua crueldade. Reduzia seus desafetos a nada dentro de ácido, e sentia prazer em ver o horror das suas vítimas, seus olhos, quando aproximava a arma de suas cabeças para o tiro de misericórdia. Eliminou seu primeiro mentor no crime crivando seu carro com 112 balas. No crime em geral, essa é a senha para ser o chefe: crueldade máxima.

Vivia como camponês que sempre foi, e ordenava a Máfia, que organizou melhor economicamente, pacificando os jovens líderes que brigavam por dinheiro e poder, com ordens escritas do próprio punho que partiam de sua rústica e pobre habitação, onde o calor era insuportável no verão, mas ainda assim não abria a janela, somente fresta da porta.

BERLUSCONI nega sempre qualquer ligação com a Máfia, mas seu assessor mais próximo, principal lugar-tenete, recorre de sentença de prisão de nove anos por ligação com os mafiosos. Berlusconi , conseguiu nas eleições de 2001, fazer todas as sessenta e uma cadeiras da Sicília, o que é sintomático. Os italianos dizem que não é uma coincidência PROVENZANO ter sido preso no mesmo dia que BERLUSCONI perdeu as eleições na Itália.

Bom que se diga que a Máfia , primeiramente, era uma sociedade sadia surgida na idade média para combater a barbárie da invasão normanda. MÛAFÂT , termo árabe que definia coragem “MÛ” e “AFÂT” proteção, foi um movimento clandestino organizado por fortes e devotados homens de bem. Transformou-se ao fim dos séculos, bem como seu nome, degenerando. Muitos mafiosos, sabe-se, encontram no Brasil grande anfitrião. Isto é péssimo!

O Brasil com caminhos difusos traça caminhos analógicos. Vamos ter uma nova Itália,reiniciando pela trama que se desenvolve no momento e se assiste, a corrupção instalada e que ganha corpo em plena pandemia, com a coragem de representantes de vulto promovendo peculato, e os que deviam estar presos planejando com os traidores a volta. Tudo uma coisa só. Bebem a mesma água e comem no mesmo prato.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 07/08/2020
Reeditado em 07/08/2020
Código do texto: T7028963
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