A morte da abelha
Era uma noite de verão e o clima estava ameno. A lua estava no seu ápice e eu bem animada com o filme que viria a seguir já com um chocolate quente na mão. De repente um barulho reverbera no ar: bzz, bzz, bzz; “Deve ser só uma mosca qualquer” penso eu. Bzz, bzz, bzz, faz o barulho de novo, dessa vez na tela da TV me chamando a atenção.
Mal posso acreditar! O que aquele animalzinho com listras pretas e amarelas fazia em minha sala? Ou melhor em minha casa? Passo uns poucos segundos decidindo como posso agir. Não quero machucá-la, mas segurança em primeiro lugar.
Minha mãe chega esbaforida perguntando o porquê eu estava com a vassoura e pá nas mãos àquela hora da noite. Expliquei a situação e ela disse:
- Deixa de besteira. Mata logo! - fala ela retirando meus objetos protetivos e respirando rápido pela corrida feita até mim.
- Não, posso fazer de outro jeito... - respondi com um nó na garganta.
- Você vai esperar ela picar uma de nós? Pisa logo em cima e pronto. - disse ela decidida a me convencer - Segurança em primeiro lugar - finalizou.
Não sei se foi o efeito da frase, a adrenalina do medo ou a sensação de poder que tinha sobre aquele pequeno ser indefeso e plaft. Pisei uma vez. Ela ainda se mexia.
- Pisa de novo. Ela pode sobreviver - disse minha mãe apontando para o inseto no chão.
Pisei uma segunda vez e bastou para se findasse uma vida.
Será mesmo que fiz àquilo por minha segurança e de minha família? Será que não somos seres absurdamente controversos e cheios de si, querendo ser o “dono do mundo” só para mostrar o poder que temos esmagando com nossos pés o que não nos convém ou simplesmente não nos agrada?
Meus amigos costumam gostar muito de mim. Dizem que sou uma companhia amigável, que sempre estou disposta a ouvir e que não faço mal a ninguém. Será que eles pensariam isso depois de hoje?
O que aquela abelha tinha feito pra mim? Por acaso não fui eu a primeira a invadir seu espaço...?
Percebo quando as formigas rodeiam o cadáver morto e depois de um tempo - conjuntamente - carregam para seu esconderijo. Junto com a abelha, as formigas também carregam um pedaço morto de mim; pedaço de culpa, desgosto, solidão, desprezo, tristeza... minha mãe não me obrigou. Eu também tive participação na morte de um ser que nada fez para mim.
Aliás dizem que quando uma abelha aparece em nossa casa é sinal de alegria. Ela só queria trazer felicidade, e o que eu fiz? Aquele pequeno inseto só queria me trazer o fim de ciclo e início de um outro mais prazeroso. E o que eu fiz? A matei. Será que sou diferente dos outros tantos assassinos que rondam por aí só porque um animalzinho não tem mais valia do que um ser humano pra esse mundo?
- Assassina! Assassina! Assassina! - minha mente grita.
Não sei quanto tempo se passou... Podem ter sido segundos, minutos ou horas. O clima esfriou; o chocolate gelou; a TV foi desligada. O silêncio na casa reinava...