BOBICES

Quando meus filhos eram pequenos eu inventava brincadeiras bobas, não sei se para divertí-los ou para me divertir com suas meninices. E meninice, como se sabe, é um estado de natural bobice.

Como a que transcrevo a seguir:

_ Sabem o nome do maior passarinho que começa com a letra A?

_ É arara?

_ Não, é avião.

_ Ah! Não, não é Não.

_ Sabem como fazem o avião com H maiúsculo?

_????

_ Tirando o G do gavião, depois colocam um H: pronto, um Havião. Tiram um pássaro ainda maior de um passarão. Do mesmo modo fizeram que o H e a letra Á de Háguia para algúem guiar o Havião. Tudo bem simples.

E depois, me contradizia de propósito:

_ Sabem o nome de uma ave grande começada com a letra A.

_ É... Avião???

_ Não, Havião não é passarão não, e começa com H. Eu tava mentindo. A ave é arubu! Havião é só um avão.

_ Deixa de ser bobo! É urubu, com A é arara. Você está inventando.

_ Não! harara é com H, igual hônibus, que é um passarão sem asa que anda no chão. E eu não hinvento com I, só com H maiúsculo.

Dava um tempo, e continuava:

_ E com a letra E?

_ É ema?

_ Não, hema é com H igual a havestruz, que não são aves, sim alimals quadrúpedes parentes dos umanos trípedes que perderam o H e agora começam com U. Ave com E é o elicóptero, que é um passarão que voa redondo. Agora vão! Preparem-se para ir à escola, para matar esse monte de ignorância. O almoço já está pronto, vão lá comer.

Mas heles hentravam no hespírito da coisa:

_ Pai, Have é com H, não é?

_ Hé sim, vocês têm razão. Heu hestava falando herrado. Hé higual ha hinteligência, hignorância he halmoço, tudo com H.

(...)

_ O que vamos comer.

_ Farofa.

_ Farofa de quê?

_ Farofa de formiga misturada com hareia, com H!

_ Que nojo!

_ Vocês sabem o nome da "formiga gorda do cerrado"?

_ Isso não existe. Existe???

_ Existe sim, e seu nome científico é "cerrateae obesum formicus". E é com ela que fazemos nossa deliciosa "farofeae"!

_ Deixa de ser bobo!

_ Podem acreditar em mim, agora comam rápido para ir à escola para ficarem sabichões igual ao seu pai. Pois só falta um minuto...

Calo-me. E eles:

_ Um minuto pra quê? Pra uma hora da tarde?

_ Não, um minuto para daqui a pouco.

Essa última virou um clássico, que até hoje usamos.

E assim seguíamos. Sempre me pediam para conversar bobo desse jeito, meio de verdade meio inventado. Eles fingiam que estavam ouvindo essas bobices como se fosse a primeira vez. E adoravam chamar seu pai de "seu bobo", que gostava de brincadeira boba. Agora eles cresceram, ela tá namorando e ele tocando guitarra, não querem mais brincadeira boba, sim coisas sérias ainda mais bobas. Mas mesmo assim bobos, derramo sobre eles minha orgulhosa baba, com saudade da época em que levávamos a vida na bobeira.