Adaptando à Quarentena
Acordo cansada como se tivesse faxinado a casa duas vezes no dia anterior. Arrastando-me para fora da cama, preparo meu café e vou ao banheiro. Voltando a cozinha, seguro minha caneca estampada com um emoji mostrando os dentes num sorriso largo com a bebida fumegante e me sento de frente à janela. As portas das casas da vizinhança estão fechadas, os carros estacionados nas ruas, as crianças presas em seus quartos em frente à televisão ou ao computador. As ruas ressoam numa solidão mórbida. Estamos em quarentena graças a pandemia COVID-19. As únicas licenças para perambular pelas ruas se você não trabalha na área da Saúde é para ir ao supermercado ou a farmácia e isso acompanhado ao uso de máscaras. Suspiro desanimada rezando para ter minha rotina de volta. Sinto falta de acordar cedo,tomar banho e colocando meu jeans e uma blusa de mangas correr para a faculdade e depois para meu trabalho na livraria do Centro. Saudade de observar as pessoas passeando na praça ou se empolgarem para ir à festas. O que era tão natural reduzido a lembranças. Cinco meses se passaram e o confinamento continua. Ligo para minha família e respiro aliviada ao saber que todos estão bem,à parte uma dor de coluna aqui e uma indisposição ali. Termino meu café acenando para meu vizinho sonolento que metido num pijama boceja para a janela de frente à minha. Pego um livro na mesa de centro do apartamento para ocupar a cabeça afastando as ansiedades que a incerteza do amanhã reverberam em meu espírito. Tudo ficará bem,repito a mim mesma, me preparando para a nova rotina que a pandemia impôs à minha realidade.