O cogumelo
Um estrondo atravessou avenidas e ruas, abalando tudo que vinha pela frente. Já aconteceu antes, quando detonaram 1800 kg de TNT dentro de uma van, matando o magnata Rafik Hariri e outras 22 pessoas em 2005. Agora o troar é pior e parece ser oriundo de uma explosão que aconteceu no porto de Beirute.
O ônibus não conseguiu ir além, outros veículos também ficaram incapazes de prosseguir.
Ele nem viu o que atingiu o veículo, mas será que alguém viu? O que foi isso? Terremoto? Atentado terrorista? Estava zonzo. Havia sangue em assentos, no chão do coletivo. Os vidros das janelas e para-brisa se estraçalharam e viraram armas perigosas. Choro, pânico e desespero tomaram conta dos passageiros.
No canto do ônibus, ele estava aturdido. Durou alguns minutos a desorientação. Voltou a si e viu uma fumaça preta tomando os céus.
Foi uma batalha sair de dentro do ônibus. Houve confusão e risco de ocorrer pisoteamento.
Do lado de fora, percebeu que estava chovendo vidro.
Ele logo lembrou de um livro e fez uma associação: "é um espetáculo pynchoniano!" Mas não era oriundo do desabamento de um palácio de cristal. Eram vidraças de edifícios que esmigalharam com o estrondo. A luz do dia deixava os fragmentos coruscantes. Seria um espetáculo bonito se tudo mais fosse ignorado.
Tentou fazer o celular funcionar, sem sucesso. O visor rachou, mas o problema mesmo era a internet que não queria pegar. Olhou em volta e viu gente, adulta e criança, sangrando, se desesperando. Carros abandonados, com vidros quebrados. Dezenas deles, das mais variadas marcas, porém tinham algo em comum: todos estavam com airbags abertos. Também havia ônibus abandonado por toda parte, passageiros esmagados nas portas. Foram pisoteados.
Foi então que veio o segundo estrondo.
Mais gritos, choros, pânicos, pisoteamentos. O troar pareceu mais forte que antes. Ele foi lançado longe enquanto tentava acender o cigarro. Outra chuva de vidros.
O roteiro se repetiu. Mas agora tinha um elemento inédito: a imensa fumaça com a forma de cogumelo. A imagem remete às guerras. Não conseguiu sequer colocar mais um cigarro na boca.
Estava temendo um terceiro estrondear.