Feltrine nasceu para ser amado. Nem seu pai e nem sua mãe sabia explicar a origem do nome do garoto. Quatro dias depois que ele nasceu o pai foi registrá-lo e entre tantos nomes sugeridos, surgiu esse em sua cabeça. Achou bom e fez dele um motivo para afrontar a esposa. Pensou que ela odiaria, xingaria ele pelo resto da vida e quando pudesse, entraria com um processo para mudança de nome. Mas ela não ficou furiosa, amou o nome do filho. Pensou em comentar com ele que tinha pensado nesse nome também e só não falou com receio de que ele achasse horrível, colocasse o nome na criança para dizer pelo resto da vida que tinha sido ideia da mãe quando o garoto questionasse. A família amou o nome. As tias, então, não largavam o menino fofo e risonho nem um minuto sequer. Os tios viam nele o futuro galã da família. Inveja e orgulho se misturavam na mente da parentada e Feltrine foi sendo mimado até ao limite da bajulação humana. E assim o menino foi crescendo, educação infantil, educação fundamental, educação religiosa e deseducação sexual. O terror das menininhas de plantão. Cantava, beijava , encantava, conquistava e traía. Deixava quando cansava como uma criança mimada larga um brinquedo. O boyzinho da cidade não passava disso, um mimadão da porra. Ensaiou ser vocalista de banda de rock, jogador de futebol e jogador de vôlei. Nada encaixava com seu ensejo. Mas era amado por todos e por tudo. Quando a moto patinou no asfalto molhado e o jogou seus 17anos de vida superficial debaixo dos pneus de um caminhão, ele foi abraçado. A morte também o amava.