ANOS DOURADOS-LIVRO 1

ANOS DOURADOS

Lembranças aleatórias de uma época inesquecível, de grandes mudanças sociais e tecnológicas.

Era a época dos bailinhos nas garagens dos prédios ao som de uma Sonata, aparelho composto de um toca discos e duas pequenas caixas de som, que se transformavam em uma mala para transportá-los. As músicas da orquestra de Ray Conniif, (“Besame Mucho”, irresistível!) eram ansiosamente aguardadas para dançar juntinho. Também eram cultuadas muitas músicas italianas (Io Che Amo Solo Te-Sergio Endrigo; Champagne - Peppino di Capri; Amore Scusami - John Foster; maravilhosas!). Uns anos antes Sam Phillips, um produtor musical americano havia declarado: “- Me dêem um branco com voz de negro e moverei o mundo!”. Em 1954, contratou um jovem de nome Elvis Presley. Deus havia atendido seu pedido. Cada vez mais o rock tomou seu espaço e elegeu Elvis seu rei. Nos bailinhos das garagens havia muitos adeptos do rock e os passos de Elvis eram imitados. A seguir apareceu o Twist, uma variação do rock que virou febre e todos dançavam. Em 1964 surgiu um conjunto de Liverpool chamado The Beatles que revolucionou o mundo musical. A música brasileira também sofreu uma revolução com a invenção de uma nova maneira de cantar samba, onde a batida, diferente da usada na época, era valorizada. A Bossa Nova foi a contribuição de nossa música para os anos hoje chamado de Anos Dourados (período compreendido entre fins dos anos 50 e a década de 60). Não houve outro período na história recente que a música atraiu tantos jovens e muitos adultos como os Anos Dourados. A música fazia parte das conversas e do dia a dia das pessoas como nunca. Havia muito contra a Bossa Nova, outros não suportavam rock, muitos apreciavam tangos e boleros. Na verdade todos os ritmos possuíam admiradores e havia espaço para todas as vertentes, desde que houvesse qualidade. No Brasil, a época que precedeu a bossa nova foi que gerou o aparecimento de muitos bons artistas. Nossa música contava com grandes arranjadores, muitos deles contratados por produtores norte americanos para trilhas sonoras de vários clássicos do cinema.

Em São Vicente, a época de férias era aguardada. Na região do Gonzaguinha os jovens se aglomeravam e a paquera rolava solta, as mocinhas andavam entre o Restaurante Gaúdio a Praça da Biquinha e os rapazes ficavam parados e apreciavam esse ir e vir, muitos aguardando o retorno de alguma moça com qual trocara olhares. Em todas as turmas havia um ou outro afoito que tomava a iniciativa de puxar conversa. Normalmente as mocinhas apressavam a passo, exceto quando já estavam de olho no rapaz.

Em muitos bairros haviam moças “mal faladas”, aquelas que despudoradas que falavam e faziam outras coisas com os rapazes. A vizinhança cuidava muito da vida dos outros e havia muita fofoca. Eu lamentava que as mal faladas nunca fossem assim chamadas por minha causa.

Outro ponto de reunião era a praia. A praia do Gonzaguinha era mais popular e a juventude curtia a Praia do Itararé. Havia turma de praia e vicentinos e paulistas faziam amizades. Um personagem inesquecível era o Dudu, o homossexual mais aguardado na praia. Chegava com um enorme chapéu e uma imensa bolsa de palha no braço, tamancos altos e sunga mínima. Mas com uma postura firme de uma pessoa assumida nas suas opções. Não era caricato, era original mesmo. Alguém que ousasse dizer uma gracinha. Dudu tinha uma resposta adequada.

Na praia do Gonzaga em Santos, nas férias era montado um parque de diversões. Um belo programa paquerar no parque e usufruir dos equipamentos ofertados. Roda Gigante, Montanha Russa, Mexicano, barracas de tiro ao Alvo, carrinhos Bate-Bate, e uma infinidade de atrativos.

Domingos à noite, ir ao cinema em Santos assistir filmes com Elvis Presley, Frank Sinatra, Ankito, Grande Otelo, Oscarito, Sophia Loren, Kirk Douglas, Tony Curtiss, Elizabeth Taylor, Robert Mitchum, Stewart Granger. Após o filme, comer uma grande novidade em uma loja da Praça da Independência: Hot Dog, servido em uma caixinha papelão com batatas fritas. A seguir tomar um café no Café do Gonzaga, onde a maior atração era a maneira de servir o cafezinho. O balcão era grande em formato de “U”, que vinha do fundo do Café até a frente. Nele eram colocados milimetricamente alinhadas uma infinidade de xícaras de café com a boa para baixo. O freguês pagava, recebia um vale e aguardava o barman servi-lo. O cara vinha com um bule enorme, dava um toque na xícara que caia em pé e colocava o café. Era um local que vivia lotado, cheio de gente. Se fosse só para ver o cara servir o café já valia a pena pagar.

Por hoje é só.

Paulo Miorim 04/08/2020

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 04/08/2020
Reeditado em 09/10/2021
Código do texto: T7026286
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