Promessa
- Você tem que ser muito cínica pra dizer sentir remorso depois de tanto tempo. Depois de tanta dor causada. E eu não tenho mais coração nem cabeça pra acreditar em qualquer coisa que venha de você. Então a cada dia que passa, eu peço a Deus por um pouco mais de esquecimento. Por amnésia súbita. – Heloisa falou.
Raissa tinha os olhos cheios de lágrimas e o rosto sujo pela maquiagem borrada.
- Mas é verdade.
- Puta merda. Como é que você quer que eu acredite nisso?
- Não sei. Só estou falando.
- Eu te odeio, sabia? E ao mesmo tempo eu me odeio por ainda pensar em você. Por sentir falta do seu abraço, e das vezes que você dizia que me amava. E a minha raiva é sentir falta de uma mentira.
- Eu sinto muito. Sinto muito mesmo.
- O pior é que eu não consigo acreditar mesmo. Mesmo que você chore e repita isso milhões de vezes.
- Eu sei. Mas eu precisava dizer.
- Você devia ter guardado essa merda toda pra si mesma. Eu não precisava disso agora na minha vida. Na real. Você só está sendo cruel comigo mais uma vez.
- Me desculpa.
- O que você quer que eu diga?
- Não sei. Eu sei que não mereço nem que você me perdoe. Mas precisava te dizer que sei que eu estava errada. Que fui uma péssima pessoa pra você.
- Acho que você perdeu o ponto. Perdeu a hora de falar isso tudo. Na verdade, eu quis que você morresse por tanto tempo que, no meu coração, você já estava enterrada.
- Eu sei que eu não presto. Sei que sou uma pessoa podre. Mas você não é. Você realmente não merecia ter sofrido o que eu te fiz sofrer.
- Olha só Raissa. NINGUEM merece passar pelo que eu passei.
Raissa ficou calada e enxugou as lágrimas com as mãos.
- Tá certo. Eu vou embora de vez agora. E já vou tarde, eu sei.
- Já vai mesmo.
- Mas quero que você saiba que eu faria tudo diferente, se pudesse voltar no tempo.
- O tempo só segue pra frente.
- Espero que um dia, todas as feridas que te cause se fechem.
- Também espero.
- Se um dia for possível. Tenta me perdoar.
- Vou tentar... Prometo. – Sussurrou Heloisa, afogada no próprio choro.
Heloísa abriu os olhos e enxugou as lágrimas com a carta que tinha nas mãos.
Depois amassou o papel e deixou entre as flores ainda frescas, em cima da lápide com o nome de Raissa.
Heloisa foi embora sem olhar para trás e sem saber se conseguiria cumprir a promessa.