Auto retrato

Ninguém vai me olhar da forma que eu sou, do jeito que me olho e penso e faço. Muito embora eu use de disfarces para não demonstrar minha frustração em função disso tenho que ser sincero e dizer que isso me incomoda muito. As pessoas nos formatam, nos constroem e nos transformam naquilo que elas creem ou ouviram dizer ou pensam que sabem por que nos conhecem muito bem de ouvir falar. Nunca por realmente nos conhecerem profundamente por mais tempo que estejam ou vivam conosco. então fazer o que? Falar o que? Por que? Pra quem?. Pois bem, essa pode ser uma forma de tentar dizer aquilo que nunca foi dito e para que se as pessoas que convivem conosco se dispuserem ou quiserem nos ler e entender do que estamos falando. O que nos transforma no que somos, de modo geral, e em função do nosso modo de viver e fazer as coisas, é, sempre, visto de forma antagônica pelas pessoas que competem profissionalmente, culturalmente ou socialmente conosco, por que a vida nada mais é que pura competição de quem é melhor que quem. E por mais que as pessoas tenham uma opinião guardada a sete chaves sobre nos elas jamais darão um depoimento favorável aos nossos conhecimentos por mais elevados que sejam nossos conceitos em virtude de estudos, informações e aprendizados por experiencias vividas. Profissionalmente poderemos chegar ao ápice daquilo que nos propusemos a atingir com conhecimento de causa suficiente pra nos mantermos no topo, mas sempre haverá um outro que lutará pra nos derrubar usando de todas as ardilosidades, armadilhas e meios que nós propiciarmos a ele para que possa usar contra nós. Aí somos formados em nossos lares desde criança a não confiarmos em ninguém, afinal todos estão de olho no que é nosso, mesmo que ainda não seja realmente nosso, conquistar as coisas depende de estratégia que podem funcionar das maneiras mais sórdidas possíveis.Culturalmente a luta já é mais igual, porque as armas serão o raciocínio, a inteligencia, a perspicácia, o interesse e a vontade de nos aprofundarmos naquilo que se nos coloca à frente para cultivarmos sempre mais conhecimentos para podermos desfrutar da sabedoria incutida, também, desde cedo, por nossas famílias. Lembre-se que antigamente o que valia para progressão profissional era mais a força bruta e nem tanto o conhecimento técnico e que por necessidade absoluta era preciso trabalhar mais do que estudar para manter a sobrevida da família em termos de alimentação, vestuário e conforto. Não havia a obrigação de se estudar 14 anos para ter uma formação universitária como é hoje. Hoje ricos e pobres tem dividido os bancos escolares das universidades, hoje ricos e pobres disputam uma mesma vaga técnica ou de nível superior e isso irrita sobremaneira a classe rica e parte da classe media que se acha top de linha. Hoje estudar e conhecer é preciso pra não ser subserviente a vida toda, sem escolhas e sem norte. Depender de outros para poder sobreviver é o caos, ter que dizer amem para tudo, baixar a cabeça e aceitar tudo não está no rol daqueles que tem dignidade e vergonha na cara. Socialmente já é uma questão de inclusão, vivemos num meio igual durante nossa vida, qual seja, nossos amigos eram nossos vizinhos e esses tinham o mesmo nível de vida, pelo menos aparentemente, que o nosso. Depois acrescentamos a essa lista nossos amigos adquiridos na escola, que nos apresentaram mais amigos, bons ou ruins, vida afora e nós passamos a adquirir experiencias, boas ou más, de vida, vícios, desejos, confrontos, duvidas,sexo e passamos a acreditar que nossas escolhas são realmente nossas e é aí que a porca torce o rabo. Temos uma criação que nos diz: isso é o certo, e aprendemos que o certo não nos serve, que o certo é o novo, bom, gostoso e desfrutável, mas mesmo assim ainda temos a barreira do aprendizado familiar. Um fardo nas costas no nosso caminhar. Mas a disputa continuará, só que agora com diversos caminhos desconhecidos a trilhar. Primeiro emprego, sonhos e desilusões e novos aprendizados. Primeira namorada, ingenuidade, teorias, aprendizados e novamente sonhos e desilusões. Primeiros erros, dores e aprendizados e novamente sonhos e desilusões. Primeiras mentiras, primeiros deslizes, primeiras puxadas de tapete, primeiras perdas emocionais e mais aprendizados e sonhos e maiores desilusões. Percebeu como nos transformamos no caminho. Hora de parar e reavaliar nossas estrategias, hora de nos entendermos internamente sem avaliações externas, hora de jogar fora tudo que nos fere e criar uma couraça para não sermos mais atingidos por essas coisas ruins, hora de criar um conceito novo, perfis novos daquilo que queremos pra nossas vidas. E ai fazemos o perfil do trabalho que queremos, do estudo que canalizaremos nossas vidas pra sermos experts em alguma coisa, criamos enfim o perfil da pessoa que queremos ao nosso lado para cada etapa do caminho e por fim criamos o esteriótipo do(a) companheiro(a) perfeito(a). E aí cometemos o maior erro de nossas vidas. Não existem pessoas perfeitas, não existem pessoas que nos completam de qualquer jeito ou forma, não existem pessoas que se disponham a nos consertar, ajudar ou viver em eterna pressão por sermos descompensados de alguma forma. Pessoas são únicas, completas e tem gostos particulares, próprios e perfeitos para suas vidas. E mesmo assim casamos e temos filhos, trabalhamos, estudamos e criamos nossos filhos, conquistamos nossos bens, conquistamos status, conquistamos notoriedade e nossos filhos crescem e vão viver suas vidas e o que sobra? Você e seu(ua) cônjuge. E você olha pra trás e lembra de toda luta, todo perrengue pra chegar ali e lembra de tudo que abriu mão pelo caminho para manter sua fachada austera de quem se deu bem na vida, você pensa: agora é só desfrutar disso tudo. E acaba descobrindo que o seu tudo, não é o tudo dele(a) e nem o seu e nem o nosso em termos de relacionamento, porque tudo passou tão rápido e tudo foi tão automático. E que o automático não interessa mais e agora que vocês estão livres querendo mais juntos e descobre que o juntos não é tão junto assim. Descobre que seus filhos seguirão seus passos para descobrirem o novo que você descobriu em sua época, para serem tão rebeldes quanto você e pra não se meter em problemas que não são deles, inclusive você. Vão te dar conselhos que você já ouviu, um filme que você já viu, vão se achar modernos, melhores e mais bem acabados e você se tornará obsoleto. Inaudível e invisível. Um peso morto sem consciência, vontades e propósitos. E aqui eu deixo uma frase minha: você é o que você fez da sua vida e você conseguiu o máximo que era possível para o nível que você alcançou. Não iria ser melhor que isso, seguisse o caminho que seguisse. Portanto creia-me você é um vencedor. Isso vai mudar? Não creio. Somos humanos imperfeitos.

E.Batbuta 20/05/2020