As outras pessoas
Para quem gosta de suspense, chegando ao final de “As Outras Pessoas” publicado pela editora Intrínseca, faltarão adjetivos para o que acabamos de ler. Eu diria magnífico. Então nos agradecimentos a C. J. Tudor faz questão de nos deixar com água na boca. Ela escreve tipo um convite: “Espero que você tenha se divertido e apareça para a próxima. Vai ser épica”. No meu caso nem de convite precisava. Vou aparecer!
Após “O Homem de Giz” e “O que Aconteceu com Anne”, diria que “As Outras Pessoas” é a primeira obra-prima da autora inglesa C. J. Tudor. Outras virão? Não Sei! Para suplantá-la, a próxima terá de ser épica mesmo. Nesta Tudor já mostra ter criado seu próprio estilo de escrever.
Como disse na minha crônica da semana passada, devemos temer aquilo que existe e não sabemos que existe. Não sei se “As Outras Pessoas” é fruto de pura ficção, ou Tudor fez alguma pesquisa. O título do livro tem a ver com a internet. Não essa que estamos habituados a usar. Trata-se do lado negro da “Deep Web”. Dos desejos de vingança e suas consequências. Quando o preço da vingança é cobrado em “favores”.
Um crime duplo é cometido. Mãe e filha são assassinadas. É nessa versão que a polícia acredita. Só que Gabe discorda. Ele tem certeza. Viu a filha dentro de um carro quando voltava para casa. Chegou a persegui-lo por vários quilômetros até atender o telefone. Ele deveria ir para casa.
Com a esposa morta e a esperança da filha estar viva, Gabe transforma-se num ermitão das rodovias. Se alimenta nas lojas de conveniências e mora dentro do seu carro. Está sempre à procura de pistas. Depois de saber das “outras pessoas”, ficamos sabendo que vários outros personagens também sabem. Alguns em troca de vingança agora precisam pagar favores. Sabem o que acontece com quem nega o pagamento.
Tudor vai enchendo o leitor com novas informações. Num momento concluímos que a nossa cabeça não aguentará. É eletrizante. No momento seguinte, virando a página estamos pedindo por mais. Não apenas os mistérios acabam se revelando. Os segredos, o passado infeliz por vezes obscuros dos personagens vêm à tona. Tudor se mostra uma expert mexendo neste emaranhado.
Mesmo não permanecendo até o final do livro, um desses mistérios permeia as páginas com o uso da fonte itálico. Tem a ver com uma marca registrada da C. J. Tudor desde “O Homem de Giz”. Uma pitada de sobrenatural. Uma bolsa cheia de pedrinhas, “clic-clac”. A menina que quando se olha no espelho conversa com a menina do itálico e tem ataques de Narcolepsia.
“As Outras Pessoas” são alimentadas pelos desejos de vingança. C. J. Tudor termina mostrando que os seres humanos nunca deixarão este alimento faltar.