GATOS

O grande charme dos gatos é a estabilidade. O gato está sempre centrado. O corpo do gato está sempre centrado. Quer andando por cima de um muro, quer caindo do terceiro andar, ele sabe exatamente sua posição em relação aos referenciais. Ele cai de pé porque domina o centro de gravidade de seu corpo. Ele também é o centro de gravidade das atenções sem mover um músculo.

Por estar sempre centrado, o gato está sempre atento. Quem o vê dormitando ao sol logo o verá assumir posição de alerta para um passarinho ou um inseto. Ele passa do repouso absoluto à atenção absoluta num segundo. O segredo de estar atento é estar centrado. E o segredo de estar centrado é estar relaxado. O gato é um mestre das ondas alfa.

O corpo dos gatos é arquitetado pelo silêncio. Tem patinhas almofadadas, músculos elásticos, calcanhares amortecedores, punhais escondidos nos dedos. Aquele ninja de quatro patas é capaz de chegar a poucos centímetros de uma presa sem ser pressentido. O gato é discreto, insistente, macio e eficaz.

As orelhas, pelo contrário, foram desenhadas para todo tipo de barulho. Giram na base como antenas, captando o mínimo som em volta. Nunca tente pegar um gato desprevenido. Só o som de seu coração batendo é suficiente para alertá-lo. E as orelhas também falam. Se estão rentes à cabeça, o gato está irritado. Levemente voltadas para trás, está pesquisando possibilidades. Se estão retas, está tudo bem.

A cara dos gatos é serena. Uma esfinge. Telúrica e imemorial. Tem um olhar que troca energias com o universo. Olhar onde se vê galáxias rodopiando e caindo em buracos negros. Olhar um gato e ser olhada por ele é um exercício de aprofundamento. O magnetismo dos olhos cativa. Relaxa. Sugere que não levemos a vida tão a ferro e fogo.

A cama do gato é o mundo. Onde ele deita, ali ele dorme. Entregue, lânguido e feminino. E mesmo quando dorme, continua interagindo com o meio. Todo enrodilhado no frio, aberto e esticado no calor. Um gato dormindo é um contraponto ao estresse do mundo.

O coração do gato bate entre 110 e 140 vezes por minuto. A velocidade de cicatrização é proporcional. E tem o ronronado. São sete vidas ativas e saudáveis respirando ao mesmo tempo. Todas querendo viver com intensidade. Aproveitando cada cochilo, cada lambida, cada caçada. Gatos amam a vida e são animais solares. São amigos do calor, da luz e das carícias mornas. Ele mesmo, o gato, é uma carícia leve sobre a crosta do mundo.

Tangará da Serra, 28/07/2020.

Lucimara Vaz
Enviado por Lucimara Vaz em 03/08/2020
Reeditado em 16/04/2021
Código do texto: T7024914
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