Casal
CASAL
Sábado, era término de uma manhã, daquelas manhãs a nos convidar para sair, andar, passear.
Fazia sol – e forte. Olhei, vi um casal. Moradores de rua, estavam deitados na calçada perto do muro de um quartel.
O local, arborizado, permitia aos dois ficarem ali, à vontade. De minha janela estava os observando.
Vez por outra a mulher, jovem, morena clara, levantava-se. Ele, o parceiro, imóvel, no sono, dormindo.
A morena colocava o braço sobre o parceiro, coloca a perna. Ele, a dormir profundamente. Sol inclemente, a pino, naquela manhã, tempo de férias na cidade.
Os observava. E pensava: ---- Veja, esse casal, aí, não tem onde morar, sem teto, sem eira nem beira.
Hora do almoço, os dois sem nenhuma preocupação com o que comerão, almoçarão. Onde tomarão banho.
Até fiquei um tanto invejoso: dele, do cidadão, com uma morena, corpo bem traçado, creio que bonita de rosto. Mas não devemos desejar a mulher alheia, do próximo - isso é um dos mandamentos de Deus.
Ela, colada a ele, grudada. Beleza. Depois, ele, o companheiro, se espertou. Acordou, levantou-se. A morena também, se espertou.
Pegaram os lençóis, a mulher apanhou uma sacola – e foram embora.
E eu os observando. Foram, sumiram. Para onde foram, bem, não sei. Acredito terem ido atrás do que comer. Era hora do almoço.
Naquele sábado de muita quentura, calorento. Temos por aqui, no Pará, a frase comum, conhecida. Esta: “Égua do calor”.