O velório

Quando criança nós íamos muito na casa de um tio do meu pai que morava na roça. Não me lembro quantos anos eu tinha, acho que uns cinco. Esse meu tio era muito debilitado e usava cadeiras de rodas. Lembro da esposa dele a tia Derlina que também já faleceu. Ela usava aqueles vestidos floridos típicos do povo da roça, tinha um jeito que eu considerava grosseiro, mas minha mãe dizia que não. Que ela era assim mesmo.

Um dia fomos para lá o tio havia falecido. Acho que foi meu primeiro encontro com a morte. Me lembro dos tios na casa, muita gente, me lembro do quintal grande da roça, do cachorro solto no quintal e dos primos que eu mal conhecia correndo de um lado pro outro.

Me lembro daquele caixão no meio da sala. Dos adultos fumando e do meu pai me levantando para ver o morto. Olhei bem pra cara dele, estava pálido e de bigode. Aquela cena vem a minha memória até hoje.

Depois me lembro do meu irmão subindo em um barranco que tinha atrás da casa com outro primo nosso. Ele sujou toda a roupa no barro vermelho.

Me lembro da Bruna minha prima e da Vânia minha outra prima, andamos até uma estrada que tinha o formato de um morro, olhamos para baixo e vimos a casa de uma família de japoneses que moravam logo abaixo ( mas essa última lembrança fico na dúvida se foi no mesmo dia do velório).

Depois me lembro de todos os primos brincando no quintal de abóbora, foi divertido. Do enterro eu não lembro de nada. Minha última memória desse dia é brincarmos de abóbora no quintal grande, com a casa aos fundos e os adultos em volta do caixão.