AGOSTO

Viramos a página do ano 2020. Se fosse um livro, de fato, ainda teríamos cinco (5) páginas para ler: agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro.

Dezembro é uma página que não conta. Esta página é um espaço de pensar nas conclusões... do ano, reunir os melhores momentos do livro ‘2020’ e convidar ‘amigos’ (?) e contar-lhes nossas proezas e conquistas (?). Dezembro é uma página para comemorar... Vai ser o máximo!

Se dezembro não conta, faltam então 4 (quatro) meses para viver o ano 2020.

Digo (escrevo – diz-se escrevendo; escreve-se dizendo), futuro, pois muitos ainda não viveram nenhuma página do atual ano. Ainda temos, em tese, 4 (quatro) boas chances.

Ah! Mas agosto também não conta, pois já se sabe o que vai acontecer: ‘NADA’, para muitos. Vejamos.

Escolas (onde se educa, ainda) estão fechadas. Universidades (onde se ‘pensa’ – melhor... pensa-se que se pensa) em ócio. Nestas, professores seguros de seus direitos, de boa. Naquelas, seus professores – categoria que realmente trabalha na Educação –, docentes estressados, deprimidos e enlouquecendo, preocupados com o dever social de levar informação (educação é outra ‘coisa’) aos alunos por meio do mais moderno e inovador modelo de educação já inventado pelo Capitalismo: educação doméstica remota. Uma beleza!

Neste cenário, pais e mães estão a ponto de mandarem seus filhos à lua. Muitos, brigam com governos e escolas para que as aulas voltem, pois aperceberam-se de quem são seus filhos. Outros pais e mães, mais estas do que esses, decididos a não enviarem seus filhos à escola em 2020. Estas mães, parece, ainda amam seus filhos. Raro. (Não vi pai dizendo que só vai mandar seu filho ano que vem. Só vejo mães dizendo isso. Por que será?).

Assim, nas melhores expectativas, 2020 pode começar em setembro. Na pior... só em 2021. Tem-se, em tese, 3 meses para viver como se fossem 12. No andar da carruagem, à brasileira, desconfio que a realidade será de mais mortes desnecessárias em busca da luta por vida necessária.

Nesta crise, gerada pela ação de um ser invisível, ou inventado por chineses (comunistas?) famintos como todos os demais capitalistas ou ainda consequência das próprias ações humanas (minhas e tuas), (esta última é uma hipótese desconhecida) percebe-se que no céu e no inferno também existe desigualdade ‘social’.

No ‘céu’ estão duas categorias: os ricos – realmente ricos e os que (pensam que são ricos) ainda mantém seus negócios ativos. Os ricos-ricos... são os que tem dinheiro para se manter nesta (e em qualquer) crise e ainda são capazes de somar mais riqueza. Os ricos-pobres... são aqueles que pensam – e agem – como ricos, explorando trabalhadores com o dinheiro de outros. Quanta desigualdade neste ‘céu’.

No inferno (da vida e da crise) estão duas categorias de um mesmo destino: trabalhadores. Trabalhadores é uma palavra bonita para engendrar conceito e significado ao que realmente representa: EXPLORADOS! Há dois tipos: os que ainda não confinaram, continuam e continuarão com seus empregos, apesar da pandemia, e; os que já estão – e foram – para o ‘olho da rua’ e os que ainda vão perder o único meio de sobrevivência conhecido na crise pós-crise. Estes vão ser rebaixados na geena (como sinônimo de um substantivo masculino deveria manter-se no mesmo gênero (?)...) para uma categoria inferior. Quanta injustiça no inferno, também.

Enfim... 2020 está aí. Ou não está?

Está! Tanto está que vai continuar tudo na mesma. E não.

Interessante notar que a palavras mais pronunciada por quem está coagido ao isolamento é mudança. Junto com outras como ‘novo normal’, ‘transformação’, ‘nova humanidade/sociedade’, ‘crise de valores’, ‘milagres’, ‘deus na causa’, ‘cloroquina’, enfim e etc. Interessante é, também, notar que todos os que falam em mudança estão loucos para voltar a fazer o que sempre fizeram: trabalhar (o trabalho ocupa e aliena o ato de pensar – que perturba, pois traz à tona a subjetividade. Conviver consigo sempre foi o dilema mais ‘tabu’ da humanidade. Por não sabermos conviver com o próprio ‘EU’ nunca estaremos preparados para conviver com outros), ganhar dinheiro e consumir. Ostentar o que desejamos mas não podemos ser: felizes. Eu também.

Mudanças são a marca humana. Sempre ocorrem. Algumas mais intensas; outras menos. Transformações significativas não são ações deliberadamente humanas. Humanos gostam de ‘barriga cheia’, ‘sombra e água fresca’ (outros animais também). De preferência preparados e servidos por serviçais. Quem defende que gosta de trabalhar falta com a representação da verdade ou está em crise com a mesma. A maioria dos humanos só muda quando a realidade os impelir. A minoria muda para ostentar. Há os arautos, profetas e excepcionais. São raros. Mas os há.

Pois é 2020. Para quem em 2100 falar de você e caprichar nos detalhes será um bom velhinho e um bom ‘contador de histórias. Mas... em 2100 não mais existirão contadores de histórias. Estes são uma categoria ainda mantida viva por um lugar chamado escola – que também não existirá mais em 2100.

A humanidade será reduzida...;

Algoritmos serão customizados – cada um desejará o mais sofisticado;

Cérebros e mentes serão orientados e monitorados por chips antrópicos;

Relações serão meta-humanas;

A humanidade e a sociabilidade serão virtuais e interplanetárias...;

E... as perguntas ainda continuarão as mesmas.