Doutor Padre
Quantos talentos médicos existem por aí, nascem médicos, vivenciam a medicina, sem que nunca tenham sido médicos, apenas espalham, pelo mundo, um dom natural.
Para onde houver uma doença, há um médico formado pelos males da vida; uma receita espontânea, a salvação vem de graça, e o mundo mostra que a cura está em mãos leigas.
Quem não tem um parente que adora dar receita? É o espírito messiânico que se manifesta, e alguém chega para nos salvar, a cura está tão perto de nós. Não diríamos que o vendedor de picolé na rua, o dono da mercearia, ou algum tio querido tenha a solução, para qualquer das nossas dores.
Eu já vi receitas serem dadas na fila do banco, na espera do ônibus, ou num bate-papo informal, basta que haja uma simples dor, para que encontremos um simples médico, laico, é verdade, mas com profundo conhecimentos medicinais.
E não há necessidade de se marcar consultas, os salvadores estão por toda as partes, um “médico” para cada vírus que existe no mundo. Erros médicos ocorrem, também entre os falsos profissionais; quantas mortes teriam sido evitadas, se os médicos espontâneos não tivessem dado um copo de água com açúcar, para aqueles que beberam muito, e são diabéticos, geralmente o que mata muito são os efeitos colaterais, quem poderia dizer que um simples copo de água doce poderia matar alguém?
Nem podemos dizer que houve um erro médico, afinal quem receitou não é médico, e nem cobrou pela consulta.
Chega um dia em que o “passador de receitas” precisa de um médico de verdade:
-Doutor, minha diabetes está alta, ou, doutor, minha arritmia está acabando comigo, ou doutor, meu fígado está respondendo a cada limonada que eu tomo... e são tantas as opções apresentadas ao verdadeiro profissional, que ele, fatalmente, dirá:
-O Senhor me procurou para ser consultado, ou foi simplesmente para se confessar?