A QUEDA
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Um amigo muito próximo, depois de anos de trabalho duro, teve de fechar sua firma, porque não podia concorrer com os importados chineses. Eu gostaria de escrever algo sobre o que chamamos “levar uma rasteira da vida” e a conseqüente queda. Não me faltariam argumentos, pois, também já levei uma rasteira. O que poderia faltar-me seria a eloqüência de um bom escritor. Por isso não vou escrever. Não vou, porque quero lhes apresentar um belíssimo poema de Millôr, que encerra melhor argumentos, galvanizados pela eloqüência que, com certeza, me faltaria:
A QUEDA
É terrível cair.
Não é apenas o orgulho que cai
Quando caímos,
Mas toda a segurança interior
Equilíbrio de cérebro e pessoa.
Caindo nos perdemos;
E alguma coisa fica lá em toda queda.
[...]
Os que já caíram,
No Paraíso, na rua, na História.
Na escada caiu Fidel.
Na aventura da Alice,
Caiu a própria Alice.
Caiu a mãe de Hamlet,
Caem as folhas no outono,
Mais triste quando cai à tarde.
E depois do primeiro homem
E da primeira mulher
Todos os grandes caem
Em seu dia e hora.
Caiu Saul, e Jonas, e Golias,
E também os muros que cercavam
Os poderosos donos de Jericó.
Caiu Tróia e caíram os Romanos.
Há grandeza nos que caem.
Não se respeitam, porém, as decaídas.
A gravidade é a negação da vida
Desde a invenção dos tempos.
Como se vê, não só obscuros figurantes da existência humana, como eu e meu amigo, tiveram a infelicidade de cair. Eu me levantei; ele irá levantar-se, com toda a certeza; pior, aqueles que caíram e cairão para sempre. ®Sérgio.
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!