Thammy e os porquês
Afinal, se pai é quem cria, como nos diz o senso comum, por que tanta polêmica em torno do comercial da Natura que tem Thammy como garoto-propaganda do Dia dos Pais? Por que existem tantos cristãos incomodados com a propaganda dessa capitalista rede de cosméticos? Ora, se Deus é amor, por que tanto ódio? Por que deixar de lado um dos princípios norteadores do cristianismo, que é amar ao próximo como a si mesmo, e partir para agressões morais e físicas em nome da imaculada moral cristã? Mais amor, por que não?
Em nome do contraditório e da ampla defesa, admita-se, porém, que nem só cristão está desgostoso com a Natura, por ter promovido essa propaganda atentadora contra a moral e os bons costumes emolduradores da sociedade patriarcalista. É verdade, quase toda a verdade, nada mais que a verdade. Eu mesmo conheço gente incrédula, culta, avançada em ideias e, ironicamente, opositora a conceber Thammy pai. Por que isso ocorre, por que esse retrocesso?
Desconheço, não naturalmente.
Naturalmente me pergunto por que ainda estamos presos à ancestral ideia de que todo pai deve portar bigode, calçar quarenta e quatro bico fino, ser do sexo masculino, fazer xixi em pé... Naturalmente me pergunto por que pai não pode ser mãe. E igualmente, por que mãe não pode ser pai. Por que esse engessamento na definição das pessoas e das coisas?
Num mundo tão moderno como o nosso, o mundo QR Code, em que escadas se movimentam sozinhas, carros e patinetes são elétricos, celulares à prova de água e de queda, me impressiona que ainda estejamos amarrados à arcaica, retrógrada e obsoleta definição do vocábulo "pai". Se antes, para ser considerado pai, um sujeito necessitava apenas ter espermatozoides férteis, encontrar óvulo igualmente fértil, fecundá-los e, então, receber o título de pai, hoje, convém ressaltar, não se deve ter em mente essa concepção atrasada e ofensiva do que seja ser ''pai''.
Hoje, para um sujeito ser considerado pai, dever ter mais que espermatozoides férteis e encontrar óvulo disponível para fecundá-los. Hoje, para ser pai é preciso ter coragem, responsabilidade coletiva e certa dose de ousadia. Ser pai, hoje, deve ser entendido não como dádiva, mas encargo, porque ser pai requer desprendimento e desapego. Por isso mesmo, tanto poderá ser pai homem ou mulher; ser pai não está restrito ao sexo masculino. Ser pai é tarefa, e não apenas presente, ação espontânea, um brinde.
Ser pai é trabalhoso, um trabalho que pode ser desempenhado por homem ou mulher. Por que não? Ser pai dispensa misoginia. Daí que, mais ou menos, chego à verdade, quase toda a verdade, nada mais que a verdade de que Thammy deve ser isenta de censuras machistas e mercadológicas, segundo as quais pai só poder ser homem do sexo masculino. Ora, por que pai não pode ser uma excelente mãe, e vice-versa? Ora, se o amor, como recomenda o bom Deus, deve está livre de qualquer preconceito de raça, crença ou cor, por que pai não pode ser mãe, e vice-versa?
Ora, enfim e finalmente, por que a palavra "Brahma" só pode ser dissílabo?