Dez anos atrás...
Em um final de semana prolongado e por isso mais triste para quem está só, escutando essa música de fundo “a lista” do Osvaldo Montenegro eu me transportei realmente para dez ou doze anos atrás.
Comecei inicialmente a lembrar-me de quando ainda casado com a mãe de meus filhos morava num condomínio residencial de luxo aqui na cidade, uma linda e enorme casa, piscina, churrasqueira, lareira, sala de tv, jardim de inverno, suíte com closet enorme e banheira com hidro, escritório, uma garagem enorme com dois carros e uma moto 750 todos importados.
Mas quando vem as lembranças elas não vem apenas da parte material e sim também dos sentimentos e me lembrei do sofrimento pelo qual passava na época pois mesmo estando casado e com quatro filhos por vezes me sentia muito mais só do que me sinto hoje.
Claro que lembrei coisas boas, acordar as seis da manhã e passar o aspirador na piscina para que meus filhos pudessem divertir-se na água azul e cristalina, fazer o café da manhã e ir acordá-los para os levar a escola, os aperitivos que fazíamos aos fins de semana e os churrascos, as festas.
Depois me lembrei do seqüestro relâmpago de que fui vitimado e do tiro que levei e da bala de 38 que ainda hoje permanece em minha perna direita.
Lembrei-me da incompreensão de um amigo político de quem eu era assessor na época e a falta de apoio que tive logo após minha separação e a vontade que me deu de sumir desta cidade.
Aí as lembranças de uma jovem apaixonada, os passeios, os carinhos e a despedida quando resolvi ir me estabelecer e morar em Fortaleza, a insistência dela em ir logo após para ficar comigo.
Também todos os preparativos para essa viagem, a desativação de meu painel eletrônico que estava aqui, sua atualização, transporte e instalação em Fortaleza.
A sociedade que fiz lá com um poderoso grupo econômico local, os sócios, os amigos e amigas que fiz, as noites e dias de amor, os dias todos de sol e calor, as praias visitadas.
E por fim o tombo que levei nesta época do ano em 1996 e que me fez pouco depois desejar voltar para São José dos Campos como última saída e enfrentar uma queda brutal de receita que mudou todo meu padrão de vida e a maneira de ver as pessoas e as coisas.
Essa letra do Osvaldo é muito boa para uma reflexão como essa, pois se você a fizer verá eu hoje percebo que até mesmo as atitudes e comportamentos de pessoas muito queridas como irmãos mudaram nesse tempo e o que não dizer das pessoas que realmente entraram e saíram de nossa vida, mesmo as mais intimas que tivemos.
Já manifestei essa idéia em outros textos mas vale perceber que aqui na telinha o tempo e as coisas parecem passar muito mais depressa e o que no real leva anos a acontecer aqui pode ocorrer em meses ou semanas e talvez até mesmo dias.