Praça Sáenz Peña

Ele chegara à Praça Sáenz Peña por volta das 18h, muito embora o encontro com um amigo estivesse marcado para as 20h. Por costume ou mania, Ricardo se adiantava aos encontros, levava às últimas consequências os ensinamentos de sua mãe.

A Praça Sáenz Peña fica no coração da Tijuca, um dos bairros mais belos e importantes do Rio de Janeiro. A famosa praça leva o nome dos presidentes argentinos, pai e filho, Luis e Roque Sáenz Peña que governaram a Argentina, respectivamente, entre os anos de 1892 a 1895 e 1910 a 1914. A nova configuração do logradouro deu-se no ano de 1911, pelo então prefeito do Distrito Federal Bento Ribeiro, que por influência da época reurbanizou o espaço tijucano sob inspiração do paisagismo francês, pondo fim ao antigo Largo da Fábrica das Chitas. Hoje a famosa praça é feia e cercada por grades.

Não se sabe o porquê, mas Ricardo se sentara em uma mesa de um bar chique. Pediu algo para beber à medida que lia Bandeira. Sem ter percebido, defronte estava uma rapariga lendo um livro. Olharam-se e curtiram a identificação dos objetos sagrados que carregavam.

Ela fez um gesto sobre o que nosso herói estava lendo, ele não perdeu a viagem e logo sentou-se ao lado da moça, dando à nova amiga o livro para que liquidasse a curiosidade. Surpresa, sorriu ao mostrar seu Drummond para o poeta. Marta, muito bonita, tinha presença de espírito ao envolver nosso tolo amigo numa brincadeira criativa. No bar, uma rádio tocava músicas. Ela deu a ideia de que, a cada canção executada pela rádio, deveriam buscar um poema que capturasse o espírito da melodia. O rapaz tinha uma habilidade que animou a menina, ficando encantada com sua prodigiosa memória ao mencionar os nomes das canções e seus respectivos autores. O tempo se deu e logo o relógio soou 20h. O rapaz, para tristeza da moça, levantou-se e foi ao caixa pagar as duas contas. Depois despediu-se da drummondiana com dois beijinhos.

No dia seguinte Ricardo percebeu que o seu livro havia ficado com Marta. Curioso, abriu o volume e observou que constava o seguinte dizer: “Se deseja o seu livro de volta, ao som de canções de Vinícius, ligue para...”

O rapaz guardou o livro na estante e tomou para si um livro do Poetinha.