Imagem: arquivo pessoal



____________CANTEIRO DE ESPINAFRE

 
Todo ano é assim: de uma hora pra outra as mudinhas vão apontando. Sem novo plantio, sem planos, sem pedir licença vão brotando da terra e tomando seu lugar. A terra é só um retalhinho no fundo do quintal, onde um dia foi plantada a primeira mudinha. Mas a coisa nunca mais parou. É chegar a época mais fria, o espinafre vai dando as carinhas e encantando com seu viço, os olhos que não se cansam de admirá-lo.

É incrível a força do espinafre! Como é possível que passe um ano dormindo dentro do chão para brotar milagrosamente no mesmo lugar? Basta que chegue seu tempo, basta sentir que o friozinho já se avizinha, lá vem ele todo contente se mostrar, posando seus ramos verdes e suculentos.

Faço meu banquete: aproveito esse tempo de fartura “espinafral” para apreciar todo o poder nutritivo e sabor peculiar desse vegetal. Com ovo, na salada, refogado, na pasta, no molho, na sopa, um tantinho de espinafre não atrapalha em nada, pelo contrário só melhora o paladar! E há que se aproveitar sua visita sazonal, porque passando seu tempo, adeus!

E a sementinha do espinafre? Penso que se parece muito com alguns sentimentos que trazemos em nós e nunca morrem — apenas adormecem para voltarem mais fortes e revigorantes. O amor, as amizades, os encontros desta vida, tal qual a sementinha do espinafre, às vezes, costumam adormecer, descansar... Mas sempre voltam para matar a saudade e tomar o seu lugar.

Os sentimentos nos nutrem... Nestes tempos de afastamento social, nos vimos obrigados a “descansar” um tantinho das presenças amadas, mas esperamos ansiosamente a hora de voltar aos seus abraços. Como sementinhas de espinafre, revestidas em pueril esperança, aguardamos a passagem desta estação não tão saudável para nossos corações. Mas, em novo tempo, e que seja logo, tudo há de florir novamente.

Quanto ao espinafre no canteirinho do quintal, espero sinceramente que o Marinheiro Popeye não apareça por aqui: não me sobraria uma folhinha sequer...